Quando a poeta curitibana Helena Kolody terminou a leitura do roteiro do documentário ''Helena de Curitiba'', baseado na sua vida e obra, ela disse para a diretora Josina Melo: ''você está me revelando a mim mesma''. Para Josina, também autora do roteiro do filme, não poderia existir recompensa melhor. Há mais de uma década, a diretora pretende levar à tela parte da vida de uma das mais conceituadas escritoras paranaenses.
Tentou há 11 anos, mas a burocracia das leis de incentivo a impediu de levar o projeto adiante. Agora, com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, Josina está finalizando a captação de imagens do média-metragem, previsto para ser lançado em março desde ano.
Com cerca de 30 minutos de duração, o documentário aborda a vida da poeta, desde a infância, a juventude como professora e os momentos marcantes da carreira. A diretora qualifica o projeto como um ''documentário romântico''. ''Eu decodifico em imagens algumas poesias que retratam passagens da vida dela'', conta.
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Muitas cenas são externas, filmadas na Lapa, a 81 quilômetros de Curitiba e no interior do Estado. Algumas imagens reproduzem a época em que Helena Kolody lecionava, no Instituto de Educação de Curitiba, com direito a figurino reconstituído. Foram reproduzidos 20 uniformes usados pelas alunas na época.
Além de figurantes, a diretora utiliza três atrizes que fazem Helena na infância, adolescência e durante a juventude. Fotografias antigas da escritora, filmadas em VHS há 11 anos, na primeira tentativa de Josina de realizar o documentário, entrevistas com a escritora datadas da mesma época e entrevista atuais também integram o documentário.
A produção do filme começou em outubro do ano passado e as filmagens estão acontecendo desde dezembro. Josina prefere não revelar o orçamento do média-metragem, mas conta que está trabalhando com um ''orçamento apertado'', já que do total do projeto, foram cortados R$ 24 mil.
Esta é a primeira direção assinada por Josina. O tema foi escolhido pela paixão que a diretora nutre pelo trabalho da escritora e a partir da necessidade de não deixar que essa obra se perca no tempo. ''Hoje em dia as crianças não sabem quem é a Helena e o trabalho dela não pode se perder'', salienta.
Para explicar como tem sido a produção do filme, Josina lança mão de uma poesia da própria Helena (''Presença'', do livro ''Viagem no espelho'' - Criar, 1988): ''Coragem de andar sobre os precipícios sem desfalecer/ Entre as labaredas, mas não se queimar/ Com os violentos e os indiferentes no mundo inimigo sem deixar de amar.''
''São palavras que retratam bem o que temos passado. É difícil colocar em prática um projeto como esse'', revela. ''Helena de Curitiba'' terá trilha sonora de Octávio Camargo, com músicas feitas ao piano, violão e flauta. As irmãs Amanda, de cinco anos, e Larissa Danchura, de 13 anos, ambas descendentes de ucranianos, interpretam a escritora na infância e adolescência. Elisa Chiesorim vive Helena na juventude. A direção de fotografia é de Lourivalde Vieira Filho, o ''Catarina'', e a edição terá a chancela de Fernando Severo.
O filme tem previsão para ser lançado no Dia da Mulher, em março, como uma homenagem à poeta. Depois disso, Josina tem previsão de editar algumas cenas e transformar o documentário em um curta-metragem, em película, para circular entre os festivais nacionais e internacionais. A meta é traduzir o trabalho para o inglês, espanhol e ucraniano. ''Ucraniano porque a terra da escritora precisa conferir o trabalho que ela fez no Brasil'', diz.
Helena Kolody nasceu no Paraná em 1912, primogênita de imigrantes ucranianos. Seu primeiro livro, ''Paisagem Interior'' foi publicado em 1941, quando ela tinha apenas 16 anos. Seguiu a carreira de magistério e publicou posteriormente dezenas de outras obras de poesias, incluindo um vasto repertório de hai kais capazes de iluminar o mais obscuro sentimento.
Uma mulher que 'colhe frutos há nove décadas'
Durante duas tardes, o apartamento em que Helena Kolody mora, no centro de Curitiba, se transformou em set de filmagem para o documentário ''Helena de Curitiba''. Quando a equipe encerrou o trabalho, na última quinta-feira, Helena pediu para ir ao seu quarto, descansar. ''Não estou cansada das filmagens. É que meus 91 anos estão começando a pesar'', brincou a poeta. Com bom humor, uma das escritoras mais conceituadas do Paraná diz que a vida a ensinou a amar. ''Amar com o coração, sem julgar, essa é uma das maiores lições que posso tirar da vida.''
Helena recebe com modéstia a homenagem realizada com o filme. ''Eu não merecia. O que eles estão fazendo faz com que eu pense na responsabilidade que é viver. Que bom se a gente pudesse deixar só boas lembranças'', diz. Numa rápida análise sobre o documentário, a poeta conta que o filme revela pontos essenciais da sua vida, como a infância e os seus 26 anos como professora do Instituto de Educação do Paraná.
O resgate de fatos que marcaram a vida da escritora, faz também com que ela reflita sobre o seu trabalho e a sua obra. ''A gente precisa despertar o lado bom das pessoas em tudo o que fazemos e para isso não há nada melhor do que o amor e a convivência'', ensina. Ela lembra um caso que a marcou na sua juventude: ''Quando eu era professora, um colega observou que as letras do meu nome agrupadas e ao contrário formavam a frase 'ela colhendo'. É assim que me sinto, colhendo os frutos que plantei nessas nove décadas''.
Helena vive com a irmã, Olga, em um pequeno apartamento próximo à escola onde lecionou por tanto tempo. Nas paredes, retratos dela recebendo homenagens e poemas emoldurados evocam a importância da sua obra. Parte do trabalho da escritora poderá ser conferido em ''Helena de Curitiba''