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Soderbergh mostra o narcotráfico nu e cru em Traffic

Andrea Nunes
12 abr 2001 às 17:22

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Traffic: face crua do narcotráfico - divulgação
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"Traffic", a cultuada produção do mais novo "darling" de Hollywood, o diretor Steven Soderbergh ("Sexo, Mentiras e Vídeo-Tape"), tem base na história da minissérie para a TV britânica "Traffik", escrita por Simon Moore. Na versão para a tela grande, vários personagens - mexicanos e norte-americanos - envolvem-se, de uma forma ou de outra, com o narcotráfico.
No enredo idealizado pelo jovem roteirista Stephen Gaghan (que concorre ao Oscar 2001 de melhor roteiro adaptado e também escreveu o roteiro de "Regras do Jogo") sobram cenas de violência, muitas delas gratuitas e difíceis de serem absorvidas, mas falta a convicção de que a droga se define justamente por sua nomenclatura. Em apenas alguns momentos isolados o espectador sente alguma firmeza no discurso anti-drogas do filme.
Soderbergh desta vez ficou em cima do muro. É verdade, ele exibe o nu e o cru dos bastidores da bandidagem que envolve o mundo do contrabando de drogas, mas de uma maneira tão neutra que não chega a fazer jus à importância e à seriedade com a qual se deve tratar este assunto polêmico. O desapontamento existe, principalmente, porque Soderbergh ficou conhecido por seu engajamento na luta ecológica contra a poluição da água em seu trabalho anterior, "Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento", pelo qual também concorre ao Oscar 2001 de melhor diretor.
No entanto, contra ou a favor às drogas, não se pode negar a qualidade do trabalho de direção, fotografia e atuação realizado em "Traffic". Steven Soderbergh, que ainda aparece creditado como Peter Andrews na direção de fotografia, mostra mais uma vez que entende de cinema. O problema é que neste trabalho, ele perde a força do entretenimento que havia em "Erin Brockovich".
No elenco, o porto-riquenho Benicio Del Toro - que concorre ao Oscar de melhor ator coadjuvante e ganhou o Globo de Ouro este ano na mesma categoria - é o grande destaque. Em "Traffic" ele se torna o melhor policial na luta contra as drogas na fronteira México - EUA. Dedicado e compenetrado em seu personagem como sempre, Del Toro soube usar o filme para alavancar sua carreira artística. Dentre tantos outros nomes estelares com boas participações no filme como Dennis Quaid, Michael Douglas, Don Cheadle e Amy irving, a atriz inglesa Catherine Zeta-Jones parece sobrar e sua atuação está anos-luz de ser convincente.
Steven Soderbergh não conhece o cinema só como arte, mas como uma indústria que rende prestígio e muito dinheiro. Longe de ser ingênuo e bom conhecedor de marketing, o diretor sabe o apelo que o tema droga tem junto ao público e que esse seria o chamariz para sua nova criação. A trama é um pouco deprimente, mas o filme não chega a ser pessimista, é só ter um pouco de paciência que depois de duas horas, já nos minutos finais, o desfecho piegas vem para confortar o espectador mais aflito.
Além de bom diretor, Soderbergh é muito esperto e sabe o que fazer com clichês. Ele usa filtro amarelo na lente da câmera para cenas filmadas no México com o intuito de fazer o público quase sentir o calor daquele local. Depois usa filtro azul para as cenas que acontecem na fria cidade de Washington. Ele põe seus protagonistas em planos fechados para o espectador se sensibilizar e ainda conhecê-los melhor.
Sem contar a questão do imperialismo cultural e social dos EUA sobre o México, o que em produções hollywoodianas já virou costume. Naturalmente, a maioria dos personagens mexicanos vivem no submundo do crime e são os bandidos da história, enquanto seus conterrâneos que vivem dentro da lei são ligeiramente americanizados. Certamente, a mensagem implícita aí é que o povo mexicano seria muito melhor se todas as suas criançinhas jogassem beisebol.
Ao contrário do que se pode imaginar, "Traffic" é lento e se arrasta por longos 147 minutos. Portanto, se você espera uma versão norte-americana de "Trainspotting" esqueça este filme. Se ao contrário disso, você deseja lembrar no dia seguinte o que assistiu no cinema, mesmo que seja uma lembrança amarga, o trabalho de Soderbergh definitivamente vai ficar registrado em sua memória. Talvez seja esse o motivo pelo qual o filme está entre os cinco indicados ao Oscar na categoria melhor filme.
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