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O diretor Walter Salles bate duro na Academia do Oscar

03 mar 2005 às 09:19

''Se nos convidam para esta festa, que nos aceitem como somos e não como acham que devemos ser''. Rompendo com a habitual finesse e diplomacia, o diretor Walter Salles não perdoou a Academia de Hollywood, que excluiu o compositor Jorge Drexler da festa de entrega do Oscar no último domingo.

Drexler não foi convidado ao palco para interpretar a canção nominada ''El Otro Lado del Rio'', composta para ''Diários de Motocicleta'', mas assim mesmo acabou levando o prêmio. No momento de receber o Oscar não fez discurso de agradecimento, mas sim fez o que lhe proibiram: cantou. Foi um tapa de luva bonito de se ver.


''Quem saiu perdendo foi o público, que não pôde ouvir a interpretação comovente que Drexler faz de sua própria canção. E se Antonio Banderas se comportou de maneira correta (consultou Drexler sobre sua apresentação), não posso dizer o mesmo de Santana. Convidado pelos produtores, Santana jamais fez contato com Drexler. Subiu na moto em movimento, sem preocupar-se com quem estava tirando do assento''.


Essas palavras duras são de um comunicado que Walter Salles encaminhou no dia seguinte à cerimônia ao presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Frank Pierson.


Confira na íntegra o manifesto de Walter Salles Jr. após a cerimônia do Oscar:

"Não poderíamos estar mais felizes, pelo autor maravilhoso que Jorge Drexler é, pelo fato de que uma canção que traduz de forma tão sensível a essência do filme ter sido reconhecida, e, finalmente, pela maneira tão digna com que Drexler recebeu o prêmio. A letra linda que Jorge escreveu para a canção fala das eleiçoes éticas, morais, que devemos fazer na vida. Pois bem, também fiquei feliz pela forma solidária com que toda a equipe que fez o filme se comportou quando os produtores do show que transmitiram a cerimônia não permitiram que Jorge cantasse. Gael Garcia Bernal, que havia sido convidado a apresentar a canção na cerimônia, se recusou a fazê-lo para qualquer pessoa que não fosse Drexler. A força de "Diários de Motocicleta" está no fato de que esse foi um filme feito de forma coletiva, em família. A alma do filme reside nesse todo onde as peças não são intercambiáveis. Fizemos esse filme com total liberdade, e não havia por que aceitar ou compactuar com qualquer tipo de imposição agora, depois de cinco anos de trabalho. Se aprendemos algo com aqueles dois jovens que elegeram uma margem do rio, é que é preciso lutar por aquilo em que a gente acredita. Era necessário manter a coerência e a integridade do trabalho realizado ao longo de cinco anos por uma equipe que veio de todas as partes da América Latina, e foi essa coerência que Drexler personificou no domingo à noite. Quanto à versão da canção que se ouviu, não tem qualquer semelhança com a versão original que está no filme, tanto na forma quanto no conteúdo. Estava equivocada até no cenário e no figurino. Se nos convidam para essa festa, que nos aceitem como somos, e não como acham que devemos ser".


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