Por estas ninguém no Palácio dos Festivais esperava, sábado à noite. Primeiro, a inesperada invasão do palco, quase ao final da entrega dos prêmios, por um homem enrolado na bandeira do Brasil, o rosto pintado à moda guerrilheira e nas mãos um cartaz. De imediato a dúvida: algum esquizofrênico do movimento Cansei ou um desvairado do MST ?
Minutos depois de sua truculenta retirada da cena por seguranças, entre vaias do público que exigia que deixassem o invasor falar e a estupefação dos apresentadores José Wilker e Julia Lemmertz, ele foi identificado por um fotógrafo ao lado. É Elias Vidal, escritor de Gramado, que há alguns anos afirma - e pelo que se viu, sem sucesso - que o projeto para a calçada da fama que o festival construiu em frente ao Palácio dos Festivais deveria ter sido o dele - quem viu afirma ser bem superior ao agora existente.
Nem bem os ânimos tinham serenado e nova bomba, desta vez detonada pelo júri oficial, mandou para os ares a expectativa da platéia. Ao atribuir o prêmio de melhor longa metragem da mostra competitiva brasileira ao documentário ''Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais'', os jurados apenas foram coerentes com a declaração deles lida por Wilker poucos minutos antes: ''A comissão julgadora vê com satisfação que o Festival de Gramado reencontrou os caminhos do cinema autoral''.
Filme realizado por cinéfilos e para cinéfilos, com interesse evidentemente restrito, vai direto para as locadoras sem passar pelas salas, segundo seu realizador, Carlos Alberto Prates Correa, que não veio a Gramado por questões de saúde. Nas demais categorias os premiados foram mais ou menos os previstos, com pouca margem de erro.
Londrina em destaque - O filme do londrinense Rodrigo Grota recebeu dois Kikitos significativos: melhor fotografia (Carlos Ebert) e melhor curta-metragem pelo júri da crítica - este ano votaram 23 críticos do país e do exterior. Além disso, foi escolhido por um júri formado só por críticos para receber o Prêmio Aquisição do Canal Brasil - R$ 5 mil veiculação canal pago. Rodrigo inicia a rota dos festivais com o pé direito. Pelo júri oficial, o melhor da categoria foi Alphaville 2007, de Paulo Caruso.
O melhor longa latino foi da Argentina: ''Nacido y Criado'', de Pablo Trapero, também votado como melhor diretor. Mas merecidamente foi o uruguaio ''El Bãno Del Papa'' o mais premiado entre os latinos: melhor filme pelo júri popular, melhor ator, melhor atriz, melhor roteiro e melhor filme pelo júri da crítica. Melhor roteirista nacional, segundo o júri, foi Marco Cesana, de ''Olho de Boi''.
Na competição entre brasileiros, Ingra Liberato ganhou o Kikito de melhor atriz (''Valsa para Bruno Stein''). O melhor ator foi Gustavo Machado, por ''Olho de Boi''.
O Prêmio Especial do Júri foi atribuído ao documentário ''Condor'', e entre os latinos o mesmo prêmio foi para ''Cobrador - In God We Trust'', de Paulo Leduc. ''Deserto Feliz'', considerado favorito, ficou com os Kikitos de direção (Paulo Caldas), melhor filme pelo júri da crítica e melhor fotografia.
Como novidade na produção da cerimônia de encerramento, o grupo performático gaúcho Tholl fez apresentação ao ar livre em frente ao Palácio dos Festivais, durante a entrega dos prêmios, interagindo com a movimentação de palco.
* O jornalista viajou a Gramado a convite da organização do festival.