O Festival de Cannes, que começa oficialmente em 16 de maio, uma quarta-feira com a exibição do muito esperado novo título do chinês Wong Kar Wai, ''The Blueberry Nights'', completa nesta edição 60 anos. Em antiguidade só perde para Veneza. E aposta na renovação. Treze entre os 22 candidatos à Palma de Ouro - selecionados entre 1.600 candidatos de 95 países - participam pela primeira vez da seção competitiva, enquanto o restante se divide entre veteranos já premiados anteriormente e antigos frequentadores da seleção oficial.
''Fizemos questão de mesclar herança e modernidade, grandes assinaturas e jovens promessas'', disse Gilles Jacob, que comanda o festival há 29 anos. Isto é garantia suficiente de que esta sexagésima rodada de Cannes não se prenderá em demasia ao glamour, de resto a única característica que o festival incorporou a título de ''parfum'' e que o aproxima da frivolidade do Oscar, leia-se Hollywood.
Mas o glamour, que muitos entendem como necessário, estará com certeza presente em Cannes durante as próximas duas semanas, com o já anunciado contingente de estrelas e celebridades cumprindo todas as noites o ritual da ''montée de marches''. Por outro lado, o aniversário dos 60 anos não significa que o festival deste ano não adotou postura auto-centrada, descansando sobre louros, olhando para o próprio umbigo e somente celebrando passado e tradição.
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Toda a dinâmica programação oficial, das mostras de filmes às master classes, está conscientemente comprometida com o presente e com os imediatos desdobramentos artísticos e comerciais do cinema, sem no entanto deixar de reverenciar valores de ontem.
Para esta edição-aniversário, a seleção mais do que nunca se equilibra entre a lantejoula e a cinefilia dura e crua. No primeiro caso, os americanos dão forte contribuição com os hiper-vitaminados reis do entretenimento Quentin Tarantino, David Fincher e Steven Soderberg. Na via contrária, os campeões de um cinema de autor sem concessões, como o russo Alexandre Sokúrov, o mexicano Carlos Reygadas e o húngaro Bela Tarr - este apresentando a adaptação de um Simenon jamais publicado.
Embora esteja evidente a ânsia pela renovação, não faltam à competição alguns queridinhos de Cannes (Emir Kusturica, os irmãos Coen, Wong Kar Wai, Gus Van Sant), os chamados habitués. A Coréia do Sul nunca chegou como agora, com dois concorrentes à Palma: Kim Ki-duk e Lee Chang-dong.
Os russos comemoram um sucesso que não conheciam há muito tempo, também com dois pretendentes ao premio máximo: Sokúrov e Andrej Zvyagintzev. Os donos da casa têm três representantes, dois deles desde sempre esnobados: Catherine Breillat e Christophe Honoré.
Fora de competição há boas promessas. O inglês Michael Winterbottom apresenta ''A Might Heart'', com Angelina Jolie como a mulher do jornalista americano Daniel Pearl, preso e executado no Paquistão. Michael Moore de novo não dá tréguas a Bush, e ataca o sistema americano de saúde em ''Sicko''. O sempre taciturno Abel Ferrara espera surpreender com uma anunciada comédia de vaudeville, ''Go Go Tales''.
O filme de encerramento é o canadense ''L'Age dês Tenebres'', de Denys Arcand.
* O jornalista está em Cannes a convite da organização do festival.