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Curta-metragem londrinense produzido com 100 reais é lançado na rede

Mario Cesar
23 mar 2001 às 17:22

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CINEMA
O MUNDO TEM ‘PRESSA’
Os cineastas Fernando Henares e Guilherme Peraro lançam amanhã, em Londrina, o curta-metragem ''Pressa'' que poderá ser visto em qualquer lugar do planeta através da Internet
Rodrigo Souza Grota

De Londrina
Especial para a Folha2

Quem poderia imaginar que algum dia um londrinense poderia realizar um filme e, de uma só vez, exibi-lo em qualquer canto do mundo? E tudo isso gastando aproximadamente R$ 100,00?
Os cineastas Fernando Henares e Guilherme Peraro produziram um filme que poderá ser visto pela Internet. ‘Pressa’, um curta-metragem ficcional, será lançado amanhã, a partir das 21 horas, no Café Connection (Avenida JK, 472), em Londrina, com entrada franca. Quem não comparecer ao café, poderá conferir o primeiro filme londrinense lançado pela web a partir das 21 horas desta quinta nos endereços www.pressa.cjb.net (site oficial do filme) e www.cafeconnectionline.com.br. No ar desde a última sexta-feira, a homepage oficial contém dados referentes à primeira produção londrinense audiovisual neste ano, ficha técnica, sinopse e algumas imagens extraídas do vídeo.
A idéia de fazer o filme surgiu no ano passado, quando Henares conheceu o site www.atomfilms.com, uma homepage americana que permite ao internauta assistir a vários filmes sem pagar nada: ‘Pela Internet, com a tecnologia stream, dá para assistir a filmes que nunca passariam por aqui’ observa Henares, que também trabalha como arquiteto. Ao conhecer o programa Adobe Premiere, que na prática funciona como uma ilha de edição não-linear, ele percebeu que seria possível realizar um filme e depois montá-lo no computador, já que o Premiere oferece uma gama considerável de recursos digitais para a arte final. Após a instalação do programa, Henares não hesitou – intimou Peraro a produzir ‘Pressa’. ‘Após esta revolução tecnológica, não há mais limites para criar. Só não faz filme quem não tem vontade’.
Henares e Peraro já haviam participado de outras produções em Londrina, como ‘De Repente Numa Tarde’ (1998), ‘Saudade’ (1999) e ‘Cine Paixão’ (2000), as duas últimas dirigidas por Sérgio Concílio e produzidas por Caio Júlio Cesaro. Mas esta foi a primeira produção em vídeo. ‘A linguagem acaba sendo diferenciada’ constata Peraro, que também acrescenta à nova linguagem uma maior agilidade nos movimentos de câmera (a Super VHS é bem mais leve que uma filmadora 35 mm) e a ausência da profundidade de campo (a profundidade foi descoberta por Orson Welles em ‘Cidadão Kane’ e marcou o início do cinema moderno).
‘Pressa’ foi todo realizado com uma Super VHS, o que contribuiu para o ínfimo orçamento de R$ 100,00. A equipe era reduzida: Henares e Peraro na direção, Karina Yamada no still, André Luiz Gonçalves de Oliveira na trilha sonora e Henares na montagem e produção executiva. Como o Adobe Premiere permite mudar o tom da iluminação, distorcer as lentes, criar novos movimentos de câmera e até novos personagens, não foi necessário designar alguém para a direção de fotografia: ‘Usamos apenas dois refletores de 500 watts’ relembra Henares, um fã incondicional do cinema americano, especificamente dos filmes do cineasta canadense David Cronenberg.
O filme que dura aproximadamente sete minutos está quase finalizado. ‘Só falta a trilha sonora, que dará um certo ritmo ao curta’, explica Peraro, que além de cineasta atua como engenheiro civil (Hitchcock também era) e cinéfilo de plantão (fã inveterado de François Truffaut, Steven Spielberg, Jacques Tati, Federico Fellini e Claude Chabrol). André Luiz, que está compondo a trilha sonora, antecipa que haverá trechos de composições próprias (eletroacústica) e inserções de outras músicas: ‘A trilha vai ambientar a personagem e irá apresentar algumas canções de Chico Science (a música tema do filme ‘Baile Perfumado’), do rapper americano Doctor Dre e de Bebel Gilberto’.
O roteiro na verdade só se consolidou na montagem. ‘No começo tínhamos quatro linhas de história. Durante as gravações é que fomos criando a trama’. Éverson Duarte Ferreira, em seu primeiro trabalho como ator, interpreta um arquiteto que tem de entregar um projeto na manhã do dia seguinte e que acabará tendo uma grande surpresa. É na verdade um exercício de linguagem, diz Peraro, uma possibilidade de se aprender como se conta uma história por meio de imagens. Ele concorda com a idéia de que os filmes que serão vistos somente na Internet se utilizarão de uma nova gramática cinematográfica: como os filmes são vistos no mundo inteiro e eles não costumam apresentar legendas, há uma tendência ainda implícita de evitar ao máximo os diálogos. Desse modo, involuntariamente os diretores voltam a dispor de um único modelo para contar suas histórias: imagens em movimento.
Um dos momentos que mais entusiasmou os jovens cineastas foi o processo de montagem. Ambos constatam que é nessa etapa que o filme se define: ‘Você tem de optar por qual enquadramento, qual sequência vai usar’, revela Peraro confirmando a tese defendida por Serguei Eisentein e Stanley Kubrick de que a montagem é o único processo que distingue o cinema das demais linguagens. Em uma da cenas, em que a personagem do arquiteto percorre trecho da avenida Higienópolis apressado devido ao adiantado da hora, há uma sobreposição de imagens, um elemento comum dos filmes da fase muda, entre os quais ‘Aurora’, ‘Limite’ e ‘São Paulo-Sinfonia de uma Metrópole’.
O baixo custo do filme e a possibilidade de exibi-lo para um grande público estimulou Henares a criar o Festival dos Cem Reais: ‘Queremos criar este festival em que o realizador terá de comprovar gastos abaixo de cem reais’. Os filmes seriam exibidos pela internet, e como devem custar pouco, provavelmente serão realizados em vídeo, o formato mais modesto do mercado. Além da Internet, ‘Pressa’ estará disponível em CD-rom, por R$ 10.
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