É o assunto da hora nas rodas. Só se fala do filme ‘Tropa de Elite’, que nem estreou no circuito comercial e já é o mais assistido e comentado da temporada. O primeiro longa do diretor José Padilha narra o dia-a-dia do capitão Nascimento, protagonizado por Wagner Moura, em ações do Bope, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
A estréia nos cinemas estava prevista originalmente para novembro, mas foi antecipada para 12 de outubro em virtude do derrame de versões piratas registrado desde agosto em todo o País. ‘É o DVD que mais vende aqui. O ‘Fantástico’ (programa dominical da TV Globo) falou do filme, você viu?’, perguntava ontem a gerente de um box no Camelódromo de Londrina, onde a cópia está sendo vendida a R$ 4,00.
Nunca antes um título nacional vazou para o mercado informal com tanta antecedência. ‘2 Filhos de Francisco’, por exemplo, foi alvo de versões ilegais na sexta semana de exibição, quando ele já havia superado a marca de 3 milhões de espectadores. Com um orçamento de R$ 10,5 milhões, ‘Tropa de Elite’ é uma das produções mais caras da história do cinema brasileiro. O impacto que a pirataria terá na bilheteria ainda é uma incógnita.
Na internet, mais de 70 mil sites oferecem o filme para download. A versão falsificada traz duas cenas a menos que a história que chega às telas. Também não traz os créditos finais. ‘O final é meio abrupto, parece que foi cortado. Não sei se a cópia verdadeira é assim mesmo. Quero ver o filme no cinema. Lá na salinha escura, é outra coisa’, dizia ontem um professor universitário que não quis se identificar.
Ele conta que assistiu a uma ‘sessão com amigos’ durante um churrasco no último sábado. Além da problema da pirataria, o longa tem suscitado polêmicas pelas situações retratadas, mostrando tanto a corrupção entranhada na PM carioca quanto as execuções sumárias e a prática habitual de tortura em civis por parte dos oficiais do Bope. Pela primeira vez no cinema brasileiro, a violência urbana é relatada pela perspectiva da polícia.
O roteiro foi escrito por Padilha em parceria com Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope e em cuja experiência se baseou a construção do personagem Nascimento. A história é ambientada em 1997. O batalhão especial é convocado para subir o morro com o objetivo de garantir a segurança do Papa João Paulo II, que ficará hospedado próximo à favela do Turano em sua terceira visita ao Brasil. O capitão, contrário à operação, é obrigado a cumprir a missão.
Vítima de stress, ele vive a experiência de ser pai pela primeira vez. Quer deixar o Bope, e para isso tem que achar seu substituto. Dois jovens PMs, ‘Neto’ (Caio Junqueira) e ‘Matias’ (André Ramiro), aspiram à vaga. Como pano de fundo, as cenas se sucedem em ritmo frenético focalizando a guerra entre policiais e traficantes.
O longa empresta elementos de documentário à ficção. Vale lembrar que o diretor é o autor do impactante documentário ‘Ônibus 174’. Exibido quinta-feira passada na abertura do Festival do Rio, o longa foi aplaudido ao final da projeção. De acordo com o professor universitário londrinense, ‘a imagem que fica é a de que os policiais do Bope são incorruptíveis e imbatíveis em sua perseguição aos traficantes, apesar de abusarem de métodos truculentos de ação’.
Outro ponto controverso levantado pelo filme é a atuação das ONGs nas favelas. A que aparece na tela é formada por estudantes de classe média usuários de drogas. O núcleo, que tem participação das atrizes Fernanda Machado (‘Maria’) e Fernanda de Freitas (‘Roberta’), sai chamuscado da trama como patrocinador da bandidagem. O longa defende a tese oficial de que quem consome drogas ajuda a financiar a violência.