"O Xangô de Baker Street", adaptação de Miguel Faria Jr. do best seller de Jô Soares, reconstitui a capital brasileira na época do Império. Participam da trama personagens como Dom Pedro II (Cláudio Marzo), Sarah Bernhardt (Maria de Medeiros), Sherlock Homes (Joaquim de Almeida) e seu fiel escudeiro Dr. Watson (Anthony O'Donnel).
As aventuras do detetive inglês no Rio de Janeiro e o convívio com intelectuais de botequim regado a mulatas, caipirinha, feijoada e sexo rendem cenas hilariantes. A que mais divertiu o público na abertura do Festival do Rio BR 2001, há cerca de um mês, foi a da visita de Sherlock Homes a um terreiro de umbanda. Na ocasião, o pai-de-santo apelida o detetive de Xangô e Dr. Watson incorpora uma pomba-gira. O filme chega aos cinemas sexta-feira, dia 16.
Em entrevista ao Bonde, Miguel Faria Jr. (de "Stelinha" e "Para Viver um Grande Amor") fala sobre a produção. O diretor comenta a participação de atores internacionais, Jô Soares e a reação do público. Leia trechos:
Bonde: Como foi orquestrar atores de três países?
Difícil é trabalhar com ator ruim. Neste caso não tivemos problemas, o elenco é muito talentoso. A questão da linguagem atrapalhou um pouco, alguns atores não se entendiam no set.
Bonde: Foi difícil convocar o elenco internacional?
No início queríamos um ator inglês para fazer o Sherlock Holmes. Não é fácil encontrar um ator inglês que fale português com sotaque de Macau. Então o Jô indicou o Joaquim de Almeida. O detetive é inglês mas aprendeu português com o sotaque dos colonizadores... Para fazer a Sarah Bernhardt, queríamos uma atriz francesa, e tivemos a mesma dificuldade. Aí surgiu o nome da Maria de Medeiros, que é portuguesa mas morou na França a vida toda. Ela é uma gracinha, e tem uma semelhança física muito grande com a Sarah Bernhardt.
Bonde: Joaquim de Almeida já trabalhou com Maria de Medeiros em "Capitães de Abril", filme em que ela atua e dirige. A escolha dela para o filme teve algo a ver com isso?
Não. "Capitães de Abril" foi lançado antes mas foi feito depois de "Xangô".
Bonde: Por um lado, a adaptação do livro recebeu elogios. Por outro reclamam da pouca importância dada a alguns personagens. Qual a maior dificuldade em adaptar o Xangô?
Este livro dá um filme de 10 horas. Trabalhar num roteiro desses é igual reformar um terno: você tem que desmontar e refazer. É a mesma coisa com o livro, tem que desmontar e reescrever. Eu fico irritado com a comparação excessiva com o livro, porque o filme é uma outra linguagem, outra leitura. Quem compara demais não entende isso. Teve uma exposição aqui no Rio de Janeiro de telas inspiradas em músicas do Chico Buarque. Como é que você vai comparar uma coisa com a outra? É a mesma situação...
Bonde: Jô Soares confessou alguma expectativa antes do início das filmagens?
Ele ficou em cima quando estávamos filmando, ligava para saber como estava o filme, mas não cobrou nem participou do roteiro. Jô indicou o Joaquim de Almeida para fazer o Sherlock Holmes e só.
Bonde: E o que ele te falou depois de ver o filme?
É o que ele tem falado para toda a imprensa. Ele viu o filme em Nova York e depois me ligou. Fez elogios rasgados ao filme, gostou muito.
Bonde: E como você encara a reação da crítica e do público?
O público tem sido maravilhoso, adora o filme, enche as salas. E a crítica recebeu bem o filme. Eu só sinto uma cobrança, como se fosse um pecado fazer filme de entretenimento. Não se pode fazer filme para divertir? Eu acho que cinema é entretenimento.
Bonde: Como foi trabalhar numa produção de época?
O mais engraçado foi descobrir que não mudou muito a realidade de dois séculos atrás. Apesar de toda a reconstituição cuidadosa do filme, o que chama a atenção é que a conversa era a mesma. A questão da falta de energia, do roubo, da violência. Mais de cem anos depois temos as mesmas reclamações...
Bonde: O público de outros países vai ter dificuldade para entender as referências à cultura brasilera?
Eu não me arrisco a falar, mesmo porque a intenção não era fazer o filme para fora. Se vai ser bem entendido lá fora eu não sei. Antes das filmagens um grupo se interessou pelo filme, queriam que ele fosse todo falado em inglês, mas o negócio acabou não dando certo. Não estou por dentro desse assunto, mas estão querendo lançar o filme nos Estados Unidos no ano que vem.
Bonde: Quais são seus próximos projetos?
Estou trabalhando no roteiro de um filme sobre a vida de Vinicius de Moraes.
As aventuras do detetive inglês no Rio de Janeiro e o convívio com intelectuais de botequim regado a mulatas, caipirinha, feijoada e sexo rendem cenas hilariantes. A que mais divertiu o público na abertura do Festival do Rio BR 2001, há cerca de um mês, foi a da visita de Sherlock Homes a um terreiro de umbanda. Na ocasião, o pai-de-santo apelida o detetive de Xangô e Dr. Watson incorpora uma pomba-gira. O filme chega aos cinemas sexta-feira, dia 16.
Em entrevista ao Bonde, Miguel Faria Jr. (de "Stelinha" e "Para Viver um Grande Amor") fala sobre a produção. O diretor comenta a participação de atores internacionais, Jô Soares e a reação do público. Leia trechos:
Bonde: Como foi orquestrar atores de três países?
Difícil é trabalhar com ator ruim. Neste caso não tivemos problemas, o elenco é muito talentoso. A questão da linguagem atrapalhou um pouco, alguns atores não se entendiam no set.
Bonde: Foi difícil convocar o elenco internacional?
No início queríamos um ator inglês para fazer o Sherlock Holmes. Não é fácil encontrar um ator inglês que fale português com sotaque de Macau. Então o Jô indicou o Joaquim de Almeida. O detetive é inglês mas aprendeu português com o sotaque dos colonizadores... Para fazer a Sarah Bernhardt, queríamos uma atriz francesa, e tivemos a mesma dificuldade. Aí surgiu o nome da Maria de Medeiros, que é portuguesa mas morou na França a vida toda. Ela é uma gracinha, e tem uma semelhança física muito grande com a Sarah Bernhardt.
Bonde: Joaquim de Almeida já trabalhou com Maria de Medeiros em "Capitães de Abril", filme em que ela atua e dirige. A escolha dela para o filme teve algo a ver com isso?
Não. "Capitães de Abril" foi lançado antes mas foi feito depois de "Xangô".
Bonde: Por um lado, a adaptação do livro recebeu elogios. Por outro reclamam da pouca importância dada a alguns personagens. Qual a maior dificuldade em adaptar o Xangô?
Este livro dá um filme de 10 horas. Trabalhar num roteiro desses é igual reformar um terno: você tem que desmontar e refazer. É a mesma coisa com o livro, tem que desmontar e reescrever. Eu fico irritado com a comparação excessiva com o livro, porque o filme é uma outra linguagem, outra leitura. Quem compara demais não entende isso. Teve uma exposição aqui no Rio de Janeiro de telas inspiradas em músicas do Chico Buarque. Como é que você vai comparar uma coisa com a outra? É a mesma situação...
Bonde: Jô Soares confessou alguma expectativa antes do início das filmagens?
Ele ficou em cima quando estávamos filmando, ligava para saber como estava o filme, mas não cobrou nem participou do roteiro. Jô indicou o Joaquim de Almeida para fazer o Sherlock Holmes e só.
Bonde: E o que ele te falou depois de ver o filme?
É o que ele tem falado para toda a imprensa. Ele viu o filme em Nova York e depois me ligou. Fez elogios rasgados ao filme, gostou muito.
Bonde: E como você encara a reação da crítica e do público?
O público tem sido maravilhoso, adora o filme, enche as salas. E a crítica recebeu bem o filme. Eu só sinto uma cobrança, como se fosse um pecado fazer filme de entretenimento. Não se pode fazer filme para divertir? Eu acho que cinema é entretenimento.
Bonde: Como foi trabalhar numa produção de época?
O mais engraçado foi descobrir que não mudou muito a realidade de dois séculos atrás. Apesar de toda a reconstituição cuidadosa do filme, o que chama a atenção é que a conversa era a mesma. A questão da falta de energia, do roubo, da violência. Mais de cem anos depois temos as mesmas reclamações...
Bonde: O público de outros países vai ter dificuldade para entender as referências à cultura brasilera?
Eu não me arrisco a falar, mesmo porque a intenção não era fazer o filme para fora. Se vai ser bem entendido lá fora eu não sei. Antes das filmagens um grupo se interessou pelo filme, queriam que ele fosse todo falado em inglês, mas o negócio acabou não dando certo. Não estou por dentro desse assunto, mas estão querendo lançar o filme nos Estados Unidos no ano que vem.
Bonde: Quais são seus próximos projetos?
Estou trabalhando no roteiro de um filme sobre a vida de Vinicius de Moraes.