De saída é preciso dar a mão à palmatória: é muito complicado fazer um filme compactado num único fim de semana sobre um escritor em luta inglória para concluir uma novela. Aqui se estabelece a premissa óbvia – atemporal e complexo, o ato de escrever não é exatamente cinematográfico.
E de quebra há a dificuldade de convencer o espectador de que aquele personagem pode de fato escrever, e que o que está escrevendo vale a pena ser lido. Garotos Incríveis tenta e tenta duro. E morre tentando, o que não deixa de ser uma pequena compensação.
Em ‘Wonder Boys’ (esqueçam a tradução em português, uma bobagem sem tamanho), adaptação de uma novela de Michael Chabon, Michael Douglas interpreta Grady, um cínico, elegante professor e escritor cinquentão instalado numa universidade em Pittsburgh. Ele já conheceu enorme sucesso há sete anos com o livro de estréia, mas depois não produziu mais nada. Por isso está imerso em crise de meia-idade. Mas não só porque não escreve uma linha sequer. Apesar de confortável, sua convivência acadêmica é rarefeita e a cátedra o transformou no protótipo do intelectual literário do câmpus.
Galanteador e atrevido, é o residente dissoluto que flerta com uma jovem e adorável estudante, e então demonstra elevados escrúpulos dormindo e engravidando a mulher de um colega. Num filme com maior compromisso com a honestidade, Grady seria a encarnação do acadêmico sem talento, desprovido de imaginação e ou experiencia de vida. Mas ‘Wonder Boys’ trabalha somente com a hipótese de que ele é um artista.
O ponto central deste filme dirigido por Curtis Hanson é a ligação entre Grady e James Leer (Tobey Maguire), um aluno teatral e rabugento, embora bem dotado de pendores literários. Leer é um personagem depressivo que carrega uma arma e leva uma vida solitária. Uma série de circunstâncias coloca os dois escritores juntos, e o contraste entre o jovem (embora sombrio) entusiasmo e o principio da decadência fica explícito. ‘Wonder Boys’ pretende, sem muito sucesso, transformar o jovem James numa espécie de retrato do artista como uma espécie de monstro cheio de poses e imprevistos, capaz de matar a tiros um cão.
Como filme, ‘Wonder Boys’ se assemelha muito a Grady: amável vez ou outra, escorregadio boa parte do tempo e quase sempre sem rumo definido. O último trabalho de Hanson, ‘L.A. Confidential’, sobre o incendiário submundo policial, foi o primeiro a dar a ele uma aclamação de legítimo artista. É evidente que aqui temos uma tentativa de assegurar o status mais cabeça. Mas apesar dos esforços para criar um universo sobre o câmpus e seus segredos, Hanson acaba sucumbindo vítima da própria visão acadêmica que pretendeu ironizar. Uma pena também que o sentimentalismo mais barato tome conta da meia hora final, mas era até previsível diante dos estranhos caminhos percorridos pelo filme.
Michael Douglas dá seu melhor desempenho em muitos anos, como não conseguia desde ‘Um Dia de Fúria’. E Tobey Maguire, visto há pouco em ‘As Regras da Vida’, parece talhado para construir desajustados cerebrais – seu olhar de coruja mantém o espectador atento àquilo que ele não está dizendo. Já é um pequeno assombro.
E de quebra há a dificuldade de convencer o espectador de que aquele personagem pode de fato escrever, e que o que está escrevendo vale a pena ser lido. Garotos Incríveis tenta e tenta duro. E morre tentando, o que não deixa de ser uma pequena compensação.
Em ‘Wonder Boys’ (esqueçam a tradução em português, uma bobagem sem tamanho), adaptação de uma novela de Michael Chabon, Michael Douglas interpreta Grady, um cínico, elegante professor e escritor cinquentão instalado numa universidade em Pittsburgh. Ele já conheceu enorme sucesso há sete anos com o livro de estréia, mas depois não produziu mais nada. Por isso está imerso em crise de meia-idade. Mas não só porque não escreve uma linha sequer. Apesar de confortável, sua convivência acadêmica é rarefeita e a cátedra o transformou no protótipo do intelectual literário do câmpus.
Galanteador e atrevido, é o residente dissoluto que flerta com uma jovem e adorável estudante, e então demonstra elevados escrúpulos dormindo e engravidando a mulher de um colega. Num filme com maior compromisso com a honestidade, Grady seria a encarnação do acadêmico sem talento, desprovido de imaginação e ou experiencia de vida. Mas ‘Wonder Boys’ trabalha somente com a hipótese de que ele é um artista.
O ponto central deste filme dirigido por Curtis Hanson é a ligação entre Grady e James Leer (Tobey Maguire), um aluno teatral e rabugento, embora bem dotado de pendores literários. Leer é um personagem depressivo que carrega uma arma e leva uma vida solitária. Uma série de circunstâncias coloca os dois escritores juntos, e o contraste entre o jovem (embora sombrio) entusiasmo e o principio da decadência fica explícito. ‘Wonder Boys’ pretende, sem muito sucesso, transformar o jovem James numa espécie de retrato do artista como uma espécie de monstro cheio de poses e imprevistos, capaz de matar a tiros um cão.
Como filme, ‘Wonder Boys’ se assemelha muito a Grady: amável vez ou outra, escorregadio boa parte do tempo e quase sempre sem rumo definido. O último trabalho de Hanson, ‘L.A. Confidential’, sobre o incendiário submundo policial, foi o primeiro a dar a ele uma aclamação de legítimo artista. É evidente que aqui temos uma tentativa de assegurar o status mais cabeça. Mas apesar dos esforços para criar um universo sobre o câmpus e seus segredos, Hanson acaba sucumbindo vítima da própria visão acadêmica que pretendeu ironizar. Uma pena também que o sentimentalismo mais barato tome conta da meia hora final, mas era até previsível diante dos estranhos caminhos percorridos pelo filme.
Michael Douglas dá seu melhor desempenho em muitos anos, como não conseguia desde ‘Um Dia de Fúria’. E Tobey Maguire, visto há pouco em ‘As Regras da Vida’, parece talhado para construir desajustados cerebrais – seu olhar de coruja mantém o espectador atento àquilo que ele não está dizendo. Já é um pequeno assombro.