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Um emaranhado de esquizofrenia

Katia Michele
20 fev 2003 às 17:24

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Cleg: de volta a sua cidade após 20 anos internado em um reformatório - Divulgação
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A cena inicial do desembarque de um trem mostra pessoas que poderiam esconder dramas psicológicos ainda mais intensos do que o que está para se ver. Mas o diretor canadense David Cronemberg faz o espectador entender que nenhum seria tão intenso quanto o vivido por Dennis Cleg.

No filme ''Spider - Desafie sua mente'' (Spider, 2002), Cleg é o último passageiro a desembarcar na cidade em que passou os seus primeiros anos de vida. Ele chega depois de viver por cerca de 20 anos num manicômio e desde a estação já começa a recolher pistas que podem explicar o motivo dessa longa temporada.

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Assim como o protagonista vai recolhendo moscas, fios, barbantes e coisas estranhas pelo chão, Cronenberg também vai deixando pistas para que o espectador construa a história de Spider. São metáforas claras e muitas vezes explicadas em demasia, mas nem por isso menos interessante. Quando criança, Cleg ganhou o apelido de Spider exatamente por essa mania de juntar coisas e fazer teias, fruto de uma história contada pela mãe (Miranda Richardson).

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Depois de testemunhar o assassinato da mãe e ver o pai, Bill (Gabriel Byrne) levar para casa uma prostituta (também interpretada por Miranda Richardon), o garoto Cleg (Bradley Hall) vai para o reformatório. Tempos depois, Spider (então interpretado magistralmente por Ralph Fiennes), volta para a cidade natal, onde passa a viver numa casa de recuperação.

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Ele passa o tempo tentanto reconstruir e compreender a sua loucura. Se vê como menino, vê os pais, tem alucinações, se perde na própria teia emaranhada por ele e anota tudo metodicamente num caderno, com uma escrita incompreensível para outros, mas que ele esconde como se ali estivesse todos os seus segredos. E estão.


O roteiro é baseado no livro homônimo escrito pelo inglês Patrick McGrath (lançado no Brasil pela Companhia das Letras). Para escrevê-lo o autor se baseou na sua experiência como enfermeiro no manicômio administrado por seu pai. Apresentado a Cronemberg, o diretor transformou o enredo num filme intimista e sombrio, quase sufocante e bem diferente do que os cinéfilos que acompanham a sua carreira estão acostumados.

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Diretor, roteirista, produtor e ator, Cronemberg nasceu em 1943 em Toronto, Canadá. Seu trabalho é inevitavelmente associado a criaturas gosmentas e pouco reais e sempre com um toque de parafernália tecnológica. A Mosca (The Fly - 1986), por exemplo, um de seus filmes mais marcantes mostra a desintegração nojenta de um cientista depois que sua estrutura atômica é misturada acidentalmente a uma mosca doméstica.


Esse, talvez, seja um dos seus filmes mais lembrados, mas o diretor assina outras obras conhecidas, como ''Gêmeos, Mórbida Semelhança'' (1988) e a ''Hora da Zona Morta'' (The Dead Zone, 1983), o primeiro roteiro adaptado usado por Cronemberg. Trata-se de uma adaptação do romance de Stephen King sobre um homem capaz de prever eventos futuro nas vidas das pessoas, bastando tocá-las.

Apesar de ter abusado da ficção científica e de efeitos especiais em quase todos os seus filmes, Cronemberg sempre ressaltou as características pessoais dos personagens. Em ''Spider'', ele optou por reforçar essa identidade, transformando o filme num suspende psicológico imperdível.


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