Solene, pesada, quase insuportável, a expectativa em torno da exibição de ‘E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?’ na mostra competitiva do 53º Festival de Cannes, em maio deste ano. Afinal, os irmãos Joel e Ethan Coen, respectivamente diretor e roteirista, são conhecidos na França como ‘Les FrSres Croisette’: no cartel de premiação da dupla em Cannes, numa carreira de apenas oito filmes - cinco já foram selecionados e concorreram no festival francês - estão uma Palma de Ouro de melhor filme e um troféu de melhor ator para John Turturo (‘Barton Fink’, 1991), além dos prêmios para melhor direção por ‘Barton Fink’ e ‘Fargo’(1996). Mas esta bagagem e o próprio histórico de um cinema de exceção não foram suficientes para avalizar incondicionalmente o filme em sua premiSre mundial. Em vez de euforia, aplausos moderados. A decepção foi mais visível durante a coletiva-cobrança logo após a exibição. De um lado, parte da crítica, irritada; de outro, os inabaláveis Coen. Mas não havia tanto motivo para exasperação: ‘E Aí, Meu Irmão...’ está bem mais próximo da subestimada comédia ‘Na Roda da Fortuna’ e de ‘Arizona Nunca Mais’, configurando uma vertente distante dos tensos, secos ‘Barton Fink’, ‘Ajuste de Contas’ e ‘Fargo’. É um filme amável, bem escrito, espontâneo, com elenco irrepreensível e que se deixa gostar sem muito trabalho.
Anos 30, Grande Depressão, ‘deep South’, Mississipi. Três prisioneiros em correntes escapam de uma prisão rural: Everett Ulysses McGill (George Clooney, em estilo decupado de Clark Gable), simpático vigarista, gomalinado, canastrão e obcecado com a idéia da liberdade e da volta ao lar; o gentil e cretino Delmar (Tim Blake Nelson) e o sempre irritadiço Pete (John Turturro). Perseguidos, encontram um ferroviário, homem sábio e cego que faz algumas profecias, revelando sinais do que o trio vai encontrar pelo caminho nos próximos dias. Mas são as palavras finais que parecem as mais proféticas: ‘Vocês vão achar uma fortuna, mas não a fortuna que procuram’. Os três fugitivos, sem nada mais a perder e ligados pelas correntes, seguem em frente numa jornada cheia de aventuras, ciladas (há um impagável encontro com a Ku-Klux-Klan) e estranhos personagens, entre eles um policial misterioso, cheio de manhas, e três apetitosas e vorazes sereias-lavadeiras. No fim da linha, a exausta e irada mulher de Ulysses, Penny (Holly Hunter), já se ajeitando com outro na prolongada ausência do marido.
Nesta concepção light dos Coen é possível identificar a aproximação de gêneros diversos, como a comédia em tom de farsa física, o musical ‘envergonhado’, a fantasia otimista à moda Frank Capra dos anos 30 e seus apêndices sociais agregados. E obviamente o pastiche da fábula de Homero. A música, uma constante no filme, foi a responsável pela escolha do Mississipi como set natural, com autênticos e preservados lugarejos onde o progresso espera a vez com paciência. À medida que Joel e Ethan gostavam mais e mais de ‘spirituals’ e ‘bluegrass’, mais o sul profundo da América aparecia como opção de locações. A aparência formal do filme é outro achado dos Coen. Nem preto e branco, nem sépia. As imagens foram tratadas de maneira diferente, surpreendente.
O título original, ‘O Brother, Where Art Thou’ é um verso de Shakespeare. Mas é sobretudo um flerte esperto, uma ‘pivate joke’ a propósito de um clássico de 1941, dirigido por Preston Sturges. No filme, ‘As Viagens de Sullivan’, o personagem interpretado por Joel McCrea é um produtor de Hollywood que sonha fazer um filme épico sobre pobreza e sofrimento. O título do filme dentro do filme é justamente o dos irmão Coen, cinquenta anos mais tarde.
Anos 30, Grande Depressão, ‘deep South’, Mississipi. Três prisioneiros em correntes escapam de uma prisão rural: Everett Ulysses McGill (George Clooney, em estilo decupado de Clark Gable), simpático vigarista, gomalinado, canastrão e obcecado com a idéia da liberdade e da volta ao lar; o gentil e cretino Delmar (Tim Blake Nelson) e o sempre irritadiço Pete (John Turturro). Perseguidos, encontram um ferroviário, homem sábio e cego que faz algumas profecias, revelando sinais do que o trio vai encontrar pelo caminho nos próximos dias. Mas são as palavras finais que parecem as mais proféticas: ‘Vocês vão achar uma fortuna, mas não a fortuna que procuram’. Os três fugitivos, sem nada mais a perder e ligados pelas correntes, seguem em frente numa jornada cheia de aventuras, ciladas (há um impagável encontro com a Ku-Klux-Klan) e estranhos personagens, entre eles um policial misterioso, cheio de manhas, e três apetitosas e vorazes sereias-lavadeiras. No fim da linha, a exausta e irada mulher de Ulysses, Penny (Holly Hunter), já se ajeitando com outro na prolongada ausência do marido.
Nesta concepção light dos Coen é possível identificar a aproximação de gêneros diversos, como a comédia em tom de farsa física, o musical ‘envergonhado’, a fantasia otimista à moda Frank Capra dos anos 30 e seus apêndices sociais agregados. E obviamente o pastiche da fábula de Homero. A música, uma constante no filme, foi a responsável pela escolha do Mississipi como set natural, com autênticos e preservados lugarejos onde o progresso espera a vez com paciência. À medida que Joel e Ethan gostavam mais e mais de ‘spirituals’ e ‘bluegrass’, mais o sul profundo da América aparecia como opção de locações. A aparência formal do filme é outro achado dos Coen. Nem preto e branco, nem sépia. As imagens foram tratadas de maneira diferente, surpreendente.
O título original, ‘O Brother, Where Art Thou’ é um verso de Shakespeare. Mas é sobretudo um flerte esperto, uma ‘pivate joke’ a propósito de um clássico de 1941, dirigido por Preston Sturges. No filme, ‘As Viagens de Sullivan’, o personagem interpretado por Joel McCrea é um produtor de Hollywood que sonha fazer um filme épico sobre pobreza e sofrimento. O título do filme dentro do filme é justamente o dos irmão Coen, cinquenta anos mais tarde.