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'Tropa de Elite', Obra aberta de Padilha, faz eco em todo o Brasil

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
11 out 2007 às 17:25

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- Divulgação
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Que ''Tropa de Elite'' iria gerar no Brasil o ruidoso debate público que se testemunhou a partir de seu estranho, ostensivo e muito livre vazamento pirata era tão certo quanto a violência que está deixando este País asfixiado.

Era mesmo de se esperar reações acadêmicas, empíricas, populares, equívocas, explosivas, radicais, oportunistas, marqueteiras, profissionais e amadoras - afinal, trata-se de uma ficção que, em nível de primeira leitura, enfoca o tema da luta contra o narcotráfico nas favelas do Rio sob o ponto de vista do comandante de uma elite repressora cujos métodos de combate à criminalidade foram desde sempre questionados.

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Inicialmente concebido como documentário, a exemplo de ''Ônibus 174'', filme anterior (e melhor) de José Padilha, felizmente este ''Tropa de Elite'' virou ficção quando o diretor sentiu que ''os policiais honestos não estavam dispostos a falar para a câmera porque temiam represálias''.

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A decisão dele tinha procedência: Rodrigo Pimentel, um dos autores do livro-fonte e ex-capitão do Bope - Batalhão de Operações Policiais Especiais -, deixou a temida corporação da PM depois das sanções que sofreu por ''falar demais'' no depoimento para o documentário de João Moreira Salles, ''Notícias de Uma Guerra Particular''.

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No livro ''Elite da Tropa'', que escreveu em co-autoria com o antropólogo Luís Eduardo Soares e com André Batista, outro ex-capitão do Bope, Pimentel não mascara a brutalidade e a corrupção que existem na polícia. Mas divide responsabilidades. Esta posição saiu das páginas do livro e foi incorporada ao roteiro, escrito por ele em colaboração com Padilha.


Este, por sua vez, afirma sempre que não buscou culpas, mas relações de causa e efeito. E se de modo geral o diretor foi aplaudido há cinco anos pelo enfoque dado ao sequestro dos passageiros e ao desenlace trágico em ''Ônibus 174'', agora com ''Tropa de Elite'' as opiniões se dividem diante da maneira quanto a encarar a questão da violência na favela.

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Ao final de ''Tropa de Elite'' me veio à lembrança o escritor Umberto Eco e seu principal, mais notável e sempre atual ensaio, ''Obra Aberta'', escrito há 45 anos. Nele, o filósofo e linguista discorre sobre poética contemporânea, pluralidade de significados da produção artística e consequentemente a vasta gama de interpretações que dela decorre.


O que Umberto Eco reclama, vulgarizada e tornada mais acessível sua teoria, é a independência da obra. Uma obra de arte não é só o que ela é na essência do pensamento que a gerou, mas o seu resultado na prática, somado à experiência de vida e às expectativas de cada espectador.

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O melhor que se encontra em ''Tropa de Elite'' (e isto é mais que suficiente para fazer dele um bom filme) está justamente nesta pluralidade de enfoques que o espectador tem à disposição. Mesmo ritmado em boa parte pela ação frenética - que considerável parcela da crítica injustamente condenou como ''anestesiante adrenalina hollywoodiana'' -, o filme abre saudável leque de vias de acesso à temática(s) habitualmente observada(s) por um viés leviano, quando não irresponsável. Para ser mais preciso: fertiliza solo invariavelmente árido, espécie de terra de ninguém povoada somente por verdugos e vítimas, frias e superficiais estatísticas, apressados circos midiáticos.


Por isso, uma única frase de Padilha é catalisadora de reflexões: ''A polícia não existe no vazio; ela é o que é e faz o que faz em consequência da sociedade que a modelou''. É aquela velha questão aprendida (e esquecida) das causas e dos efeitos.


No filme, e se prolongando à saída do cinema como dever de casa, se impõe obrigatoriamente a discussão de um problema que, numa mesma equação, engloba sociedade, polícia, traficantes e usuários de drogas. Mas que se amplia de forma ainda mais assustadora para um universo macro permeado por questões nacionais pertinentes, como corrupção política, falência de instituições, corrosão da ética, autoritarismo gerado pela impunidade, ausência de políticas públicas. Quem seria o inimigo? Não será com certeza quem está entre o fogo cerrado no alto e no pé do morro, mas sim a consciência apodrecida de outras elites. O espectro sócio/político/econômico/cultural é bem mais amplo e complexo do que se imagina.

Ao contrário do que se tenta fixar como crítica maior ao filme, ''Tropa de Elite'' não glorifica os abusos repressivos para torná-los fascistóides, mas faz denúncia crua e brutal da podridão e dos excessos criminosos das elites. Claro que não apenas a policial, aqui do andar de baixo. Por mais preparada, independente e eficiente que seja, esta também é tumor menor. Embutida na narrativa conduzida com eficiência por Padilha, cinematograficamente muito bem construída, está a septicemia, aquela outra realidade que transcende os limites da favela, dos quartéis do Rio e das salas de aula da universidade, a realidade-notícia de quem vende, de quem consome e de quem reprime. Assistindo ao filme com muita atenção, cabe ao espectador unir os fios deste diagnóstico com nomes, sobrenomes, cargos e domicílios conhecidos.


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