Peter Jackson, o diretor da saga monumental de ''O Senhor dos Anéis'', gosta de dizer que uma das maiores emoções de sua vida foi quando assistiu a ''Guerra nas Estrelas'' - e ele esclarece que não foi apenas uma emoção estética, daquelas que se tem no cinema.
O filme, literalmente, mudou sua vida. Muitos jovens, desde a histórica quarta-feira, 25 de maio de 1977, quando ''Star Wars'' estreou, tiveram o mesmo tipo de revelação, mesmo que não tenham se tornado cineastas (e grandes artistas) como Jackson.
Naquele tempo, já se percebia que o filme iniciava alguma coisa, mas ainda era cedo para saber que a trilogia que Lucas ia concluir em 1983, com ''O Retorno de Jedi'', viria a ser a segunda, quando ele iniciasse, no fim dos anos 1990, um movimento de marcha à ré para contar o verdadeiro início de sua saga estelar.
Uma caixa com os três filmes da segunda série (a mais antiga) e mais um DVD só de extras, contando tudo o que você queria saber sobre a produção dos filmes, já está à venda em locadoras e lojas especializadas de todo o País.
Convém esclarecer que não é bem uma caixa, mas uma luva na qual se encaixam os quatro discos digitais - o de extras e os que contêm os filmes ''Guerra nas Estrelas'', ''O Império Contra-Ataca'' e ''O Retorno de Jedi''. Era assim que se chamavam ao estrear nos cinemas. Agora são ''Star Wars Episódios 4, 5 e 6''.
A Fox Home Video não cita números, mas anuncia que as unidades à venda não serão inferiores às da série ''Indiana Jones'' (100 mil) - 75% serão comercializadas imediatamente e as 25% restantes só nas semanas que precedem o Natal. E tudo isso precede a estréia mundial do terceiro filme da primeira série, o ''Episódio 3'', marcada para 19 de maio do ano que vem.
Por que tamanho frenesi? Porque ''Star Wars'' não é só um filme ou um conjunto de filmes. O cinema nunca mais foi o mesmo desde que estreou o primeiro (agora o quarto) filme, há 27 anos. ''Star Wars'' deu extraordinário impulso ao desenvolvimento da estética dos efeitos especiais que se tornou, para o bem e para o mal, dominante em Hollywood.
''O Retorno de Jedi'' foi retocado para incluir, no final, a imagem do jovem Annakin, interpretado por Hayden Christensen. Há mudanças mais sutis, que só os tietes mais extremados vão perceber.
O disco de extras é pura sessão nostalgia, contando como Lucas teve a idéia da série, como desenvolveu a história, os personagens e como foram criados os efeitos especiais.
Houve muitas mudanças de percurso. Inicialmente, era a história de gêmeos, depois uma saga de anões e sofreu várias transformações até virar a história de Luke Skywalker e seu confronto com o sinistro Darth Vader, que comanda as forças destrutivas do império - e a quem Luke culpa pelas mortes de seu pai e a de seu mentor, Obi-Wan Kenobi, sem saber que Vader é justamente seu pai, Annakin Skywalker, que se rendeu ao lado maligno da Força.
Que a força esteja com você. A saga difundiu essa idéia - a de uma força que, como explica o pequenino Yoda em ''Star Wars Episódio 5 - O Império Contra-Ataca'', consegue mover o universo só com a imaginação.
Nada mais metafórico do projeto de cinema de Lucas e da própria Hollywood que ele ajudou a formatar nas três últimas décadas, com base em suas preferências de cinéfilo.
De ''Star Wars'' a ''O Retorno de Jedi'', Lucas, com a assessoria do mitólogo Joseph Campbell, construiu uma história sobre a criação do herói. Na nova trilogia, prevista para terminar no ano que vem, com o ''Episódio 3'', ainda sem título em português, ele faz uma ousada construção do vilão, o que ajuda a compreender as polêmicas que acompanharam ''A Ameaça Fantasma'' e ''A Guerra dos Clones''.
Num dos especiais que compõem os extras, é de arrepiar a cena em que o garoto Hayden Christensen veste a armadura negra de Darth Vader, incorporando a persona do vilão. Será que Lucas, além da força, tem o sexto sentido de M. Night Shyamalan?
O novo ''Star Wars'', completando um ciclo de triunfo do mal, chegará às telas com a consolidação ou o declínio da era George W. Bush, que, na verdade, teve origem com Ronald Reagan, nos anos 1980. Quando a saga estiver completa, tudo isso ficará claro e será definitivo. Esse cinema infantil(izado) não é nem pode ser o único, mas faz parte de nossas experiências. Que a força esteja conosco.