Estreias

Sem roteiro, o nonsense "Mandando Bala" faz juz ao título

30 nov 2007 às 11:25

Nem bem transcorreram os primeiros cinco minutos de projeção e já é possível dizer que se está diante de um caso - já não tão raro ou estranho assim - em que um roteiro se faz notar por sua ausência.

''Mandando Bala'', que estréia em Londrina, é desses chamados entretenimentos obtusos, um desses filmes que permitem ser observados sem qualquer necessidade de pensar em trama ou argumento ocasional. O que preside tudo é a ação em estado puro, aqui coadjuvada na medida por Clive Owen, um dos atores hipercool do momento.


Nenhum dúvida quanto às reais intenções do diretor e ''não-roteirista'' Michael Davis: estender os excessos até além dos limites do tolerável. De uma só vez ele reúne todos os componentes do filme de ação.


Parte da vertigem dos videogames, agrega as imagens hiperbólicas de Sergio Leone, acrescenta a violência hiperrealista de Johw Woo (o filme é explicita homenagem a ''Fervura Máxima'', cult de 1992 do diretor chinês), multiplica porções de sadismo e um presumido humor negro. A idéia talvez fosse satirizar o gênero através do caminho da paródia fácil e não reflexiva.


De um lado, Smith (Owen), de antecedentes desconhecidos que pode ter sido alguém treinado pela CIA ou similares. Ele soluciona todos os problemas com uma arma e uma cenoura, hortaliça que substituiu o cigarro e eventualmente é utilizada como arma. De outro, um antagonista implacável vivido por Paul Giamatti, em papel nada habitual, o de vilão ultrasádico.


O herói durão deve proteger uma mulher grávida perseguida pelos bandidos da hora. Pois ele faz o parto, corta à bala o cordão umbilical, vê a mãe ser assassinada, carrega o bebê entre tiroteio cerrado, arranja uma prostituta ama-de-leite quarentona e frustrada (Mônica Bellucci!) e resiste a novos ataques. O porquê de toda esta sangrenta correria a esta altura é puro nonsense: tem a ver com uma conspiração que inclui ingredientes como política, transplantes, recém-nascidos e venda de armas.

Violento, sórdido, sádico, torpe, amoral: escolham uma vertente e ela se aplicará a ''Mandando Bala''. O ritmo, claro, é sustentado à força de balas e cuidadosa elaboração visual. Duelos à bala (a estatística de algum cinéfilo mórbido contabiliza 100 mortos) e perseguições automobilísticas se sucedem. A mais bizarra das sequências mostra Owen liquidando oito assassinos enquanto ele e La Bellucci atingem seus respectivos orgasmos simultâneos.


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