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Sátira ousada e hilária

Carlos Eduardo Lourenço Jorge
22 fev 2007 às 14:21

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Com doses maciças de humor politicamente incorreto, filme não abre mão da provocação e ultraje, que atingem inclusive as minorias - Divulgação
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Com um título quilométrico, o filme ''Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América'' será amado ou odiado na mesma medida, e esta ambivalência costuma ser um inferno para as regras fixas do mercado exibidor brasileiro.

Comédia satírica e não isenta de grosserias, escrita, produzida e interpretada por Sacha Baron Cohen, cômico inglês muito popular nos EUA por seu personagem televisivo em ''The Ali G. Show'', ''Borat'' surpreende em muitos aspectos. Entre eles o fato paradoxal de que, sendo o artefato explosivo que é, tenha sido filmado e lançado com enorme êxito nos Estados Unidos, alvo principal das demolidoras críticas.

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E mais: os 129 milhões de dólares obtidos desde seu lançamento em novembro, só no mercado americano, fazem dele um dos campeões de bilheteria do ano passado, e um dos melhores custos-benefícios recentes da industria - custou apenas US$ 18 milhões.

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Neste filme ''on the road'', o argumento é franciscano em sua aparente simplicidade. Um jornalista do Kazaquistão, Borat Sagdiyev (Sacha Cohen), viaja aos Estados Unidos com a intenção de realizar um filme de entrevistas que recolha opiniões da sociedade do país em torno de temas como sexo e racismo.

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Através de um falso documentário ancorado por ele mesmo, e munido de evidente empenho e explícitas intenções de promover a anarquia e a irreverência, Borat conduz o espectador pelas entranhas do país, durante a jornada costa a costa.


Em todas as partes, em todos os momentos, com todos os entrevistados, Borat chega ao centro do poder da maioria branca, racista e profundamente religiosa, extraindo daí as maiores contradições de uma nação fragmentada que se coloca diante do mundo como farol da democracia e da liberdade.

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Sob a aparência de nonsense e escatologia, de doses maciças de humor politicamente incorreto enfatizado no choque de culturas, o diretor Larry Charles (criador de ''Seinfeld'') e o roteirista Sacha Baron não abrem mão em nenhum momento da provocação, do acinte e do ultraje, disparando sua metralhadora giratória que atinge a tudo e a todos, inclusive minorias. Grouxo Marx, Lenny Bruce, Andy Kauffman e o grupo Monty Python são influencias óbvias, certo, só que parecem escoteiros perto de ''Borat''.


À medida que o filme avança para sua metade final, os desvarios deste roteiro devastador e muito a propósito indicado ao Oscar (não vai levar, claro) começam a empalidecer diante dos desajustados comportamentos reais de seus entrevistados, deixando claro, como sempre, que a realidade é bem mais estranha do que a ficção.

E, como sempre ocorre com proposta com tal teor de combustão, de polêmica e de controvérsia, muitos aclamarão o filme, enquanto o repudio virá na mesma medida.


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