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"O" filme de arte

Rodrigo Juste Duarte
23 mai 2002 às 17:24

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André, personagem de Selton Mello no filme: fuga de um relacionamento familiar sufocante - Divulgação
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Sair de uma sessão do filme "Lavoura Arcaica" e ouvir pelos corredores o público comentando que "este nem parece ser um filme brasileiro" traz uma sensação boa e uma ruim. A ruim é que o público continua com o pensamento preso aos desleixos cinematográficos do passado, ignorando excelentes trabalhos recentes do "renascimento" do cinema brasileiro (só para citar alguns exemplos: "Central do Brasil", "Outras Histórias" e "Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos").
A boa é que comentários como este são "o" aval para atestar a qualidade do filme, não só por sua história mas também por seus aspectos técnicos. Pode parecer protecionismo, mas "Lavoura Arcaica", do diretor, produtor e roteirista Luiz Fernando Carvalho, não peca em aspecto algum. A começar pela história, que foi abordada e filmada de uma forma bastante envolvente. Ela retrata o conflito vivido entre o pai e um filho de uma família de imigrantes libaneses que vivem em uma fazenda, mantidos por uma lavoura de subsistência.
Nos aspectos técnicos, o filme é perfeito (a fotografia e o som são de primeira linha), como resultado de um trabalho ambicioso do diretor, que levou quatro anos para finalizar este longa de três horas de duração - ele justificou que não queria deixar nenhum detalhe de fora. Mas o filme nem parece ser tão longo. Suas imagens belíssimas contribuem para que o expectador perca a noção do tempo. Pode-se afirmar estufando o peito que "Lavoura Arcaica" é um dos melhores filmes de arte já feitos, talvez o melhor do gênero no Brasil. E apesar de ter sido produzido por amor à arte, sem a intenção de dar lucro (cobrir os gastos já era satisfatório para a equipe), já foi assistido por mais de 200 mil pessoas por todo Brasil desde sua estréia, em outubro de 2001.
Tragédia familiar
O filme foi baseado no livro homônimo de Raduan Nassar. Porém, o filme quebra uma constante das adaptações literárias para o cinema: é superior à obra original. O livro mostra como o patriarca da família, um autêntico senhor colonial, cria seus filhos com base em uma educação ortodoxa e arcaica, seguindo com rigidez conceitos tradicionais sobre família e religião. O resultado é uma obra cansativa e pouco envolvente, até mesmo para as velhas gerações.
No filme, o diretor mantém fielmente a história de Nassar, que tem como principais personagens André (Selton Mello) e Pedro (Leonardo Medeiros). O primeiro é o filho pródigo, que fugiu da fazenda, passando a morar em uma pensão qualquer em uma vila de baixa reputação. Seu irmão Pedro o encontra e tem a missão de convencê-lo a retornar a seu antigo lar. "Não é uma adaptação, mas sim uma resposta ao livro, uma reação, mas que jamais nega a sua fonte - ao contrário, avizinha-se dela; porém, o mais invisível possível", declarou o diretor.
Boa parte do filme se passa no interior do quarto de André, o foragido da família, que habita um aposento sombrio, dominado por uma penumbra incômoda. O ambiente não poderia ser mais perfeito: André é um garoto perturbado por fantasmas do passado, originários da vida familiar que levava antes de deixar a fazenda onde nasceu e foi criado. A escuridão lhe cai bem, perdoando-se apenas a iluminação de velas.
Mas o filme não é uma clausura, como se pode imaginar. O diálogo entre André e Pedro é constantemente atravessado por flash backs, dando dinâmica à história. O encontro dos irmãos é conturbado. Emoções de ambos os personagens são levadas à tona. André esbraveja e chora diante de suas lembranças. Pedro fica angustiado e até deixa a impressão de que gostaria de seguir o exemplo do irmão e escapar das garras do pai (Raul Cortez, em atuação impecável). Em meio a essa tempestade, descobre-se que os motivos que levaram André a deixar a fazenda não foram apenas o relacionamento insuportável com o pai, a falta de liberdade e a vida dura na lavoura. Havia um fator mais forte: ele cometeu incesto com sua irmã Ana (Simone Spoladore). A tragédia familiar está instalada.
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