''Querô'' (90 min.), primeiro longa-metragem de ficção de Carlos Cortez, em cartaz nos cinemas de Curitiba, poderia ter se destacado entre as recentes produções brasileiras, mas deve acabar esquecido na lista. Trata-se de um filme de estrutura simples, cujo objetivo é narrar a violência (em todos os níveis) sofrida por Querô, filho de uma prostituta que, ao dar a luz, é expulsa de onde trabalha e mora.
Sem condições de criá-lo, ela o abandona logo nos primeiros dias de vida (na porta do próprio prostíbulo) e é, em seguida, encontrada morta na rua. ''De pai desconhecido'', Querô segue apenas para sobreviver, como se os seus primeiros dias de vida já tivessem determinado todo o resto.
O mote do filme, portanto, passa a ser o abandono (não só da mãe, claro), e num sentido cru, sem eufemismos - característica certamente trazida pelo próprio dramaturgo Plínio Marcos, que escreveu, em 1976, a história que agora dá base ao filme.
Mas, ao mesmo tempo em que a solidão total de certa forma o permite ser ''dono'' do próprio destino, em contraposição há o tal do destino inexorável acima de qualquer outro traçado.
É uma espécie de caminho certo para aqueles que parecem não ter qualquer outra opção na vida, a não ser passar à margem dela. E o filme explora tal fato, sim, o que o torna até inédito em comparação às produções brasileiras que optam pelo mesmo mote. Em boa medida, entretanto, o filme explora o contraditório do abandono de maneira tão hermética que o torna também um pouco chato. Pena.
Vale assegurar, no entanto, ao menos dois méritos ao filme de Cortez. Primeiro o trabalho do ator que interpreta o adolescente Querô, Maxwell Nascimento. Ele já abocanhou troféus em dois importantes festivais de cinema do País, no de Brasília, realizado no ano passado, e que em 2007 chegou à sua 40 edição, e no 17º Cine Ceará, realizado no último mês de junho. Recentemente, o jovem ator também recebeu o Prêmio Araucária de Ouro na segunda edição do ainda apagado Festival do Paraná de Cinema Brasileiro e Latino, realizado em Curitiba.
O segundo mérito está no ineditismo do próprio cenário da história, a região portuária de Santos, também ela cruamente ''abandonada'' e diferente do submundo carioca, até bem pouco tempo atrás quase onipresente nos filmes brasileiros.