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Para um Natal descomplicado

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
22 dez 2006 às 17:25

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- Divulgação
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A indústria cômico-romântica de Hollywood tem muito disso. Na busca de ‘novidades’ nos limites de gêneros exaustos, notam-se manobras e contorcionismos de roteiristas que pretendem oxigenar, seja lá como, for uma atmosfera rarefeita pela inócua viagem ao redor do próprio umbigo.

‘O Amor Não Tira Férias’, uma das estréias nacionais do final de semana de Natal, é um desses produtos. E como tentativa de estabelecer diferença de ‘status’ notável principalmente aos olhos do analista, este filme da diretora Nancy Meyers – cineasta que é uma espécie de referência no gênero – constrói uma falsa aparência de filme introspectivo.

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Durante as primeiras cenas ouve-se uma voz em off. O discurso que se ouve cria a expectativa de que o espectador será cúmplice de uma jornada através das relações pessoais, de um estudo sobre como é o amor visto pela ótica de vários casais que o experimentam de maneiras diversas. Mas não se entusiasmem, porque a viagem termina logo aqui. Na meia hora seguinte os personagens serão apresentados, e serão deixados exatamente no lugar onde a platéia cômico-romântica quer que eles fiquem.

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Como saberão previamente pelo título, tanto o original, ‘The Holiday’, quanto a tradução bobinha que providenciaram por aqui, o filme trata disto mesmo, férias. Precisamente aquelas curtas de Natal que os americanos sempre desfrutaram e que somente há pouco tempo e em alguns poucos segmentos foram incorporadas ao calendário brasileiro de folgas – a propósito, somente são possíveis no Natal as estréias com entorno natalino?.

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No argumento, estas férias são mais ou menos compartilhadas por quatro personagens: Amanda Woods (Cameron Diaz) e Miles (Jack Black), que vivem em Los Angeles e não se conhecem, e Íris Simpkins (Kate Winslet) e Graham (Jude Law), irmãos que moram nos arredores de Londres.


Estas pessoas vão entrar em contato por meio de Amanda e Íris como conseqüência de seus desenganos amorosos; as duas se conhecerão via Internet (em cena onde se recria surpreendentemente bem uma conversa virtual), e para passar um Natal alternativo trocarão suas casas e seus carros. De certa maneira, também suas vidas, e em definitivo.

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De novo se apresenta ao público a oportunidade de pensar que as duas mulheres, cada uma por seu lado, vão tentar recompor suas existências de alguma maneira não convencional, mas o certo é que Amanda conhecerá Graham e Íris encontrará Miles, aplicando ao amor aquela velha receita de que para neutralizar veneno é necessária dose igual de veneno. Isto posto, resta construída a estranha figura geométrica amorosa que, no caso não seria nem um triângulo e nem um retângulo, mas alguma coisa parecida com dois curtas-metragens independentes um do outro até quase o desenlace.


Ao final das contas, este não é um produto que busque a veracidade nas relações, nem que questione a essência agridoce da vida. Trata-se, isto sim, da estilização simplista do típico conto de fadas contra-indicado a diabetes.

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É fora de dúvida que Nancy Meyers, não somente aqui, mas em sua filmografia como roteirista ou como diretora (‘O Pai da Noiva’, ‘Do que as Mulheres Gostam’, entre outros), não pretende traçar um retrato complexo e maduro das relações humanas.


Mas mesmo diante da clicheria, da rotina e da preguiça com que ela se agarra o projeto, ainda assim é possível encontrar em ‘O Amor Não Tira Férias’ momentos até interessantes, como certas brincadeiras metalingüísticas e alguns trailers imaginários sobre a vida de Amanda – e alguns intérpretes que sabem resolver com correta dose de carisma as carências de seus personagens, como o velho roteirista aposentado vivido com maestria pelo veterano Eli Wallach.

Isto significa, ao fim e ao cabo, que é até possível acrescentar o filme ao pé da árvore de Natal, para ser apreciado depois que todos os demais presentes forem abertos. E isto é um elogio.


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