Quando ''Se Meu Fusca Falasse'', o bem aplicado título brasileiro, surgiu com muito sucesso nas telas há 36 anos, o simpático besouro motorizado se converteu num dos mais populares personagens na história do cinema e da televisão, evidentemente porque o modelo era então o carro-chefe de vendas populares da igualmente popular marca alemã.
Este famoso fusquinha com o numero 53, capaz não apenas de transformar-se num bólido de corridas como também de sentir e expressar ''emoções'' à sua maneira, foi adotado como ícone por pelo menos duas gerações de pais e filhos.
Agora, quando ninguém mais esperava, ele está de volta em ''Herbie - Meu Fusca Turbinado'', saído da garagem do tempo dos estúdios Disney e ampliando as opções de férias da garotada.
Depois de todos esses anos, em plena hegemonia da sofisticada animação digital e de efeitos cada vez mais especiais, o que se pode fazer com aquele velho truque do carro que tem ''vida'' própria? Simplesmente isso: aquele velho truque do carro que tem ''vida'' própria.
Utilizando principalmente efeitos da época artesanal, ''Herbie - Meu Fusca Turbinado'' (mais uma vez a distribuidora acerta no batismo em português, traduzindo com propriedade o original ''Herbie - Fully Loaded'') resulta satisfatório de modo geral.
E isto muito em decorrência dessas próprias limitações não impostas pelo orçamento de resto folgado (custou U$ 50 milhões), mas por inteligente auto-opção retrô. Ainda assim, não deixa de ser uma produção sem maiores ambições.
O roteiro é elementar, embora tratado a oito mãos. Depois de uma introdução ''documental'' interessante e até didática, quando se recorda ascensão, glória e decadência de Herbie, o carrinho é resgatado do ferro-velho de maneira quase fortuita pela jovem Maggie (Lindsay Lohan) pela bagatela de US$ 75. Agora remotivado, o velho e cansado herói sobre rodas não demora a demonstrar antigas habilidades e virtudes mecânicas e afetivas.
Há o indefectível conflito familiar a garota é filha (o pai é Michael Keaton), irmã e neta de pilotos de corrida que administram uma escuderia em crise e que não querem ver a jovem envolvida no meio. Não falta o mau caráter de ocasião, o arrogante e egocêntrico campeão vivido por Matt Dillon.
E como parte da trama há uma série de corridas e perseguições construídas para que Herbie faça por merecer a fama, mate a saudade dos nostálgicos e conquista a nova geração com sua previsível ingenuidade.
Além de um toque feminista naturalmente aplicado pela diretora Angela Robinson, de um ou outro discreto efeito digital e da paixão marqueteira do velho carrinho direcionada ao modelo atual do fusca, este ''Herbie'' bem poderia ser datado de uns 20, 30 anos atrás.
Para um número expressivo de pais, levar os filhos ao cinema será um efêmero e inocente mergulho na maquina do tempo, embalado por uma boa trilha de hits mais velhos por conta de Van Halen, Beach Boys, Steppenwolf e Lionel Ritchie. E para o ex-presidente Itamar Franco, uma razão a mais para ele sentenciar mineiramente lá no seu ócio romano: ''Viram só? Eu não dizia!''