Com ''Sympathy for Lady Vengeance'' (título internacional), o diretor Park Chan-wook dá um fecho em sua trilogia sobre a vingança após os igualmente impactantes ''Sympathy for Mr. Vengeance'' (2002) e ''Old Boy'' (2003).
Coerente com estes títulos anteriores, o tema recorrente conduz o espectador a mais um original e sofisticado exercício de estilo do cineasta. Selecionado para a competição em Veneza-2005, o filme foge às simplificações e se coloca como um drama forte - discutível, com certeza -, de costas para o tratamento hollywoodiano da violência e suas rotineiras sequelas.
Uma das críticas que fazem frequentemente a Park Chan-wook é que seus filmes se concentram muito na exuberância visual, no tratamento requintado, elegante que imprime à sintaxe cinematográfica, à esmerada planificação da narrativa. ''Lady Vingança'' é de fato extremamente cuidado na forma, mas este tratamento chega ao espectador respaldado por um roteiro de primeira linha.
O argumento, como parte óbvia da trilogia a qual pertence, gira em torno de uma variante do ''olho por olho, dente por dente''. A protagonista deste ''Lady Vingança'' é Lee Geum-ja Lee (a bela e excelente atriz Yeong Lee-ae). Aos 19 anos, a jovem é presa e condenada pelo sequestro e morte de um garoto de 6. Ela no entanto encobriu alguém, o verdadeiro autor dos crimes. Depois de uma pena de 13 anos, e possuída por profundo ressentimento, Geum-ja deixa a prisão e inicia suas articulações vingativas.
A partir daí, a moça até então bem comportada e companheira durante os anos de cumprimento de pena se transforma numa espécie de exterminadora. Na primeira metade, a personagem engendra a captura do homem que complicou sua vida. E então se revela, no segundo ato, que o verdadeiro tema do filme não é a vingança, mas as consequências dela (e de qualquer outro pecado) e a possibilidade de redenção.
Park Chan-wook não se mete a atribuir, a título de moralismo, nem penas nem castigos a seus personagens por conta dos crimes. Entretanto, o fato de que o filme não adicione moral à história ou um ''foram felizes para sempre'' não significa que não aborde seus temas em profundidade.
Curiosamente, a Coréia do Sul é país com predomínio de cristãos fervorosos, mas também com a presença de religiões (ou filosofias) muito sedimentadas no extremo Oriente, como budismo e confucionismo, sempre muito influentes.
Diante disso, ''Lady Vingança'' explora e contrasta as possibilidades de redenção que elas, religiões, oferecem: bastaria apenas o arrependimento sincero, ou quem faz deve pagar, nesta ou em outra vida? Neste sentido, embora seja uma tragédia apoiada na vingança como ''Hamlet'', o filme mais se aproxima de ''Crime e Castigo''.
Mas o diretor quer mais. Na mesma medida de ''O Hospedeiro'', outro produto coreano exibido há uma semana no mesmo Com-Tour, ''Lady Vingança'' tem na linha de frente personagens desvalidos, a quem a sociedade não ajuda ou protege. E se querem justiça, têm que buscar eles mesmos, com todas as graves consequências públicas e as cargas pessoais que isto acarreta.
Isto tudo sem esquecer que o filme é um ''thriller''. O plano de Geum-ja é desfiado e executado pouco a pouco e envolvido em emoção e intriga, e não faltam surpreendentes reviravoltas que mantêm permanentemente o interesse do espectador. Violento sim, mas com um mínimo de explicitude e um máximo de tensão psicológica, emoldurados pelo uso e abuso de planos e ângulos extremos e pela paleta de cores. O final resulta um tanto esticado, mas se não ajuda, também não atrapalha.