Na ressaca do Oscar, as distribuidoras não arriscam munição mais pesada, preferindo negociar títulos de calibre médio ou investir na permanência de oscarizáveis (como 'Menina de Ouro' e 'O Aviador') e outros que tiveram boa aceitação (‘Hitch - Conselheiro Amoroso’).
Uma das raras novidades nacionais desta sexta é o drama de ação ‘O Vôo da Fênix’, estreando no circuito nacional e que, se não merece comemoração efusiva, também não se coloca para uma ampla detonação.
Uma tempestade de areia. Um acidente. Onze sobreviventes. A quase dez mil quilômetros da civilização, em pleno deserto de Gobi, na Mongólia, não há qualquer possibilidade de resgate. Além do entorno hostil, com recursos cada vez mais exíguos, eles ainda têm que enfrentar o ataque de contrabandistas do deserto. É preciso então esperar o impossível, aliás a única alternativa. E ela surge na figura de um dos sobreviventes, que propõe a construção de um novo avião a partir das sobras do acidentado.
Claro que a esta altura o estresse já manda e desmanda no grupo, e para conseguir o objetivo todos vão ter que esticar o pavio das respectivas paciências. O impossível acontece. Ou não estaríamos no reino da fantasia.
‘O Vôo da Fênix’ original, que o diretor Robert Aldrich realizou há 40 anos, era um estudo acurado, sem prescindir da ação eletrizante, sobre o comportamento de homens reunidos em espaço limitado (o Saara) e submetidos a pressão constante. James Stewart liderava um grupo naturalmente conflitante entre si, mas que ainda assim tentava superar todas as adversidades para afinal salvar a própria pele.
O que fica evidente nesta retomada de ‘The Flight of the Phoenix’ é que o diretor Robert Moore dificilmente será algum dia um clássico como Aldrich - em entrevista ele se disse muito atraído pela ‘grande história humana’, mas estranhamente disse também que nunca tinha visto o original. O que talvez o tivesse desestimulado a encarar esta dispensável refilmagem.
E seu elenco, à frente Dennis Quaid (mais físico que cérebro), demonstra mínima autonomia de vôo se comparada com aquele time dos sonhos dos anos 1960: além de Stewart, Richard Attenborough, Peter Finch, Ernest Borgnine, Hardy Kruger, Ian Bannen, George Kennedy, Ronald Fraser, Dan Duryea e Christian Marquand. Não havia mulheres no elenco (agora há uma, interpretada por Miranda Otto), e nem por isso o filme era misógino ou sexista.
Não é um filme ruim, já que o roteiro do ator e diretor Edward Burns segura suspense e tensão com certa desenvoltura - o estranho louro, misterioso e obsessivo vivido por Giovanni Ribisi é uma boa peça de resistência. Quem gostou de ‘Armageddon’, ‘Com Air’ e ‘Mar de Fogo’ pode se dar bem nestas duas horas de sangue, suor e areia.