Jogando no mesmo time de Taylor Hackford, que assina ''Ray'', o diretor Joel Schumacher dificilmente chegará a realizar algum dia um grande filme, uma obra transcendente que vá além de seu perene esteticismo.
Instável, Schumacher quase sempre sobrepõe o estilo à substância, coisa até mais ou menos normal nesses tempos atuais em que se valoriza mais o invólucro do que o objeto, a superfície mais do que o fundo. Isto, em resumo, é o que temos sobre ''O Fantasma da Ópera'', a tão esperada versão para o cinema de um ícone dos palcos. O filme chega ao circuito nacional aproveitando a maré do Oscar - é candidato aos prêmios para direção de arte, fotografia e canção original.
Esta enésima adaptação da novela romântica de Gaston Leroux (a melhor é ''O Fantasma do Paraíso'', que Brian DePalma recriou há 30 anos com um pé no fantástico e outro no barroco a partir do universo roqueiro) é bastante fiel ao extravagante universo imaginado e construído nos palcos pelo britânico Andrew Lloyd Webber, ele mesmo co-autor do roteiro e co-produtor.
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O filme abre com o fantasma já em plena função, o que não ajuda muito o espectador de primeira viagem a entender de que trata a história. Em versões mais remotas e fiéis ao original era possível conhecer o personagem quando ele ainda não era ''monstro''.
O fantasma (Gerald Butler) é uma trágica figura que vive nas catacumbas do gótico Teatro da Ópera de Paris, em fins do século 19. Obcecado por Christine (Emmy Rossum), jovem, bela e talentosa aspirante a estrela, ele convence os donos do teatro a dar à moça um papel importante. Mas quando ela transfere o interesse afetivo para o aristocrata Raoul (Patrick Wilson), seu benfeitor se enfurece e trata de se vingar.
Criatura disforme e repulsiva segundo o texto literário de Leroux - e respeitada por todas as versões cinematográficas anteriores -, o fantasma aqui virou galã com umas poucas cicatrizes no rosto encobertas por charmosa máscara. De monstro que conquistava a amada (e o público) graças à enorme sensibilidade, o personagem se transformou num Don Juan caprichoso e transtornado pela competição amorosa.
Pode-se dizer que Schumacher elegeu o caminho mais seguro, o que nem de longe significa o melhor: a reprodução fiel da montagem musical, servida de bandeja por todos os meios que o cinema-espetáculo tem à disposição.
Talvez isso seja suficiente para satisfazer os fãs incondicionais da criação de Lloyd Weber, mas não deve bastar para que o numero de admiradores aumente: os muitos efeitos, os gestos teatrais, os (sofríveis) diálogos cantados e a grandiloquência musical que exalta as emoções podem ter eficácia no palco, mas a presença da câmera atua como diluidor da magia.
Assim, a calculada mistura de melodrama, romance, horror, mistério e transbordamento sonoro fica solta no ar, e os cenários parecem mais adequados a uma orgia kitsch do que a um intenso drama romântico sobre um espírito refinado e aprisionado num corpo disforme.
Com voz, coração e carisma, a promissora Emma Rossum é quem desponta no elenco. Já Gerald Butler se revela limitado em qualquer direção. Os demais elegeram apenas a correção, engrossando o coro daqueles que muito ajudam se não atrapalham.