Estreias

O rebuscado 'Dália Negra'

09 out 2006 às 13:20

Festivais de cinema, já se disse e até soa paradoxal, não são as melhores ocasiões para se exercitar a crítica aprofundada de muitos títulos, portadores dos mais diversos estilos e recém-chegados das mais variadas procedências; além disso, concentrados naquele ininterrupto e frenético espaço de tempo e lugar.

As razões são muitas, boa parte delas bastante óbvias (overdose de tarefas, pressa, cansaço), e nem cabe aqui enumerar todas. Mas convém, sim, esclarecer que uma revisão posterior, e em outras circunstâncias, se não altera substancialmente a primeira impressão, pode clarear este ou aquele ponto de vista que num primeiro momento se mostrou nebuloso ou discutível.


''Dália Negra'' surge agora um tanto mais fragilizado do que há exatos trinta dias, quando foi visto na estréia mundial no Festival de Veneza. De imediato resulta nociva a duração esticada desta adaptação do thriller literário de James Ellroy ambientado na Los Angeles do imediato pós Segunda Guerra Mundial.


A trama gira em torno do assassinato e mutilação de obscura candidata a atriz, imediatamente apelidada de ''The Black Dahlia'' pela imprensa sensacionalista. Josh Hartnett e Aaron Eckhart são dois policiais. Eckhart torna-se perigosamente obcecado pelo caso Dália Negra, e Hartnett torna-se perigosamente obcecado pela namorada do outro, Scarlett Johansson, pouco à vontade e indecisa em papel que rende muito pouco.


Os desdobramentos da intriga amorosa caminham paralelamente ao caso policial e agregam elementos em demais, que terminam por congestionar a cena: corrupção, falência moral da sociedade de Los Angeles & Hollywood, imprensa marrom, politicagem, assassinatos, requintadas perversidades, verdades e meias verdades, a questão do duplo, o real e aquilo que se imagina, a culpa e a redenção em chave de suspense.


Isto tudo é boa parte daquilo que fez do diretor Brian De Palma um manifesto herdeiro de Alfred Hitchcock, mesmo que esta característica pop do diretor de ''Carrie'' seja algo que a posteridade ainda não teve tempo suficiente para julgar.


Embora um ''noir'' duro e por isso bem centrado nos postulados do gênero, montado com estilo e elegância, e dirigido com visível entusiasmo, ''Dália Negra'' não se equipara a ''Los Angeles Confidencial'', baseado também em texto de Ellroy e dirigido com mais eficácia por Curtis Hanson.

Neste, todo o cinismo, a corrupção policial e as reviravoltas no curso da história eram muito mais satisfatórios, principalmente porque encenados por um elenco incomparável. ''Dália Negra'' perde muito com o discreto rendimento de Hartnett, Eckhart e principalmente da ainda prematura Johansson. Quem segura é Hillary Swank, a ''menina de ouro'' de Clint Eastwood, carismática e carregada de charmosa dubiedade como ''femme fatale''


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