Premiado com cinco troféus Kikito no Festival de Gramado do ano passado - direção e elenco -, ''Filhas do Vento'' é o primeiro longa metragem de ficção assinado por Joel Zito Araújo.
Além de cineasta, roteirista e diretor de programas de TV, Joelzito, como é conhecido no meio cinematográfico, é Doutor em Ciências da Comunicação da ECA-USP, além de professor convidado do Departamento de Radio-TV-Film da Universidade do Texas desde 2001. Nas duas últimas décadas realizou 24 documentários com extensa lista de premiadas participação em festivais.
Dois títulos anteriores a ''Filhas do Vento'' deram maior visibilidade ao diretor: os documentários ''O Efêmero Estado União de Jeová'', em 1999, e ''A Negação do Brasil A História do Negro na Telenovela Brasileira'', sobre preconceitos e tabus na trajetória do personagem negro na telenovela brasileira.
Com ''Filhas do Vento'' veio a estréia na ficção, seguida da consagração pelo público e pela crítica no mais importante festival de cinema do País. Com o maior elenco de atores negros já reunido pelo cinema nacional, o filme é ao mesmo tempo brasileiro e universal ao abordar em profundidade o universo individual e coletivo de uma família no interior de Minas Gerais, em especial as mulheres deste contexto.
O editor do caderno Cultura de O Estado de São Paulo e crítico de cinema da Agência Estado, Luiz Zanin Oricchio, assim se expressou a respeito de ''As Filhas do Vento:''
''A história, pontuada por rivalidades internas, brigas, separações e redenção, tem enredo deliberadamente novelesco, e é interpretada por um elenco quase inteiramente por atores negros: Lea Garcia, Maria Ceiça, Ruth de Souza, Taís Araújo, Kadu Carneiro e Rocco Pitanga, entre outros.
Baseia-se, de maneira informal, na história verdadeira de Ruth de Souza, que saiu do interior para se tornar uma grande atriz no Rio de Janeiro, tendo de enfrentar todo o tipo de preconceitos que restringe o mercado de trabalho dos atores negros a papeis subalternos ou estereotipados. A certa altura, uma das personagens diz que está cansada de ser empregada doméstica de novelas, uma alusão mais do que direta ao mercado televisivo e também à biografia de Ruth.
Longe de ser panfletário, ''Filhas do Vento'' procura apenas contar uma boa história, de feitio narrativo clássico, que poderia se passar por qualquer família humilde, mas que é conformada pelos elementos da separação de raças que existe no Brasil, ainda que de forma oculta.
De narrativa enxuta, econômica, o filme tira boa parte de sua emoção, sem dúvida, do desempenho de duas atrizes como Ruth de Souza e Lea Garcia, magníficas ambas. São duas grandes damas, que interpretam com dignidade exemplar, nunca querendo se sobrepor à emoção implícita dos papéis escritos para elas.
''Filhas do Vento'' é também uma boa surpresa porque se trata da estréia na ficção de Joel Zito Araújo. De certa forma ele retorna ao tema do documentário 'A Negação do Brasil', mas agora com a liberdade e a emoção que a forma ficcional permite.''
Em Curitiba o filme está em cartaz na Cinemateca. Em Londrina, o título faz parte da programação da XX Semana Zumbi dos Palmares no Cine Com-Tour/UEL.