'Como se Fosse a Primeira Vez' é uma comédia romântica que se apóia em alguns mecanismos interessantes, e por isso se distancia um tanto da vacuidade de que é feita a maioria delas.
Interessante, como o charme desta boneca sapeca que é Drew Barrymore. Ou como a presença de Adam Sandler, um comediante que está conduzindo sua carreira por caminhos cada vez mais pessoais. Ou ainda como a idéia base do argumento um homem se apaixona por uma mulher que tem perda de memória frequente e parcial, acordando todos os dias sem saber quem ele é.
Esta é uma premissa em torno da qual imediatamente qualquer pessoa vai indagar com interesse: ''e daí, o que acontece depois?'' O diretor Peter Segal sabe como amarrar bem esta trama.
Há um problema, porém. Um até que bem considerável, tratando-se de comédia. ''Como se Fosse a Primeira Vez'' não é um filme engraçado. Adam Sandler não é engraçado como uma das partes do casal romântico. E o Rob Schneider, aqui de havaiano, é menos ainda. Estranha peculiaridade.
As piadas em ''50 First Dates'' não são piadas, são tentativas. E o público acaba se divertindo da mesma maneira, só que das tentativas de se fazer graça. Ou, para ser mais preciso, da paródia cômica de uma pessoa tentando fazer humor, como Sandler logo na abertura do filme, tentando se livrar de uma bela mulher com quem ele teve um caso de fim de semana. Um processo estranhamente pós-moderno, ainda que meio barulhento às vezes.
Ele, Henry, é veterinário especialista na vida marinha do Ártico. Ela, Lucy, professora de arte em escola secundária. Ele é uma espécie de Don Juan esta é outra anedota ''a caminho'' que sonha viajar para o Alaska e ali estudar a vida das morsas.
Numa paradisíaca ilha do Havaí, os dois se encontram, ele balança diante dela, ela retribui a atração. Para desequilibrar o encontro, o distúrbio neurológico que faz a moça perder a memória e acordar no dia seguinte sem se lembrar de nada da noite anterior.
Para cinéfilos que não se lembram (!) onde já viram algo parecido, eis que comparecem, de mãos dadas, ''Memento'' (sem os cadáveres) e ''Feitiço do Tempo'' (sem o tratamento mais filosófico).
Assim, é preciso cultivar a relação em todo momento, já que ela se renova a cada manhã. Mais ou menos como a figura da florzinha que deve ser regada diariamente, ou do amor que deve ser adubado sempre...
Uma graça como sempre, solta e cômoda no papel, o que reforça a idéia de que tem talento de fato, Drew Barrymore empresta calor especial a Lucy, alguém em permanente processo de descoberta cada novo encontro é o primeiro encontro. E alguém para quem, afinal, o tempo não passa, o que pode ser bom e ser ruim.
Sandler, ao contrário de Jim Carrie, não leva o histrionismo às últimas consequências. E por isso mantém seu personagem convincente e bem acabado. Pena que ainda persistam retomadas do humor mais cru, incluindo uma serenata de amor onde ''Lucy'' acaba rimando com ''pussy''. A intenção, com certeza, não foi chamá-la carinhosamente de gatinha.