Fica difícil sair em defesa do diretor ''argentino/brasileiro'' Hector Babenco depois do péssimo ''Carandiru'', filme realizado em 2003, mas ''O Passado'' (115 min.), em cartaz nos cinemas de Curitiba, não chega a ser ruim.
O ponto de partida é a separação de um casal que, em tese, tinha tudo para dar certo. O casal é vivido pelo ator Gael García Bernal (o atual ''representante latino'' em Hollywood), no papel do tradutor Rimini, e pela atriz argentina Anália Couceyro, no papel de Sofia, rosto ainda desconhecido do espectador brasileiro.
O motivo exato da separação após 12 anos de casamento não importa ao filme. Há um relativo consenso, e até uma tranquilidade, sobre o rompimento e o fim do amor. O problema surge após a concretização da separação, quando Rimini se muda para um apartamento.
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Ao contrário dele, que abdica da maioria dos objetos que antes uniam o casal, Sofia tem dificuldades para encarar a mudança e permanece na mesma casa, com todas as caixas de fotos e o ''peso'' dos 12 anos. Mas, o que parecia ser apenas um sofrimento inicial, e natural, se torna de fato um problema. Acreditando que a separação, de certa forma, anula o seu próprio passado, Sofia se nega a construir outros pontos de partida e interfere direta e indiretamente na nova vida de Rimini.
Ao final, o filme tenta provar, sem muito sucesso, na verdade, que até mesmo Rimini não pode abrir mão do passado, sem sofrer as consequências da decisão, se quiser seguir adiante.
No filme de Babenco, entretanto, o comportamento de Sofia está associado fortemente ao feminino, o que, sem aqui entrar no mérito de qualquer discussão sobre gênero, acaba dando às mulheres do filme um ar até alegórico.
Tanta alegoria acaba não só justificando cenas irreais (e há um excesso de acontecimentos improváveis) como também dá uma densidade à Sofia contrastante com a superficialidade aparente do personagem vivido por Bernal. Incômodos para quem exige habilidade na direção.