Estreias

'Motoqueiro Fantasma' se faz compensar pelo visual atraente

07 mar 2007 às 08:44

Cinquenta e um milhões de dólares num fim de semana de estréia é cifra que se inscreve nos melhores desempenhos da indústria de cinema em todos os tempos. Foi confiando nesta expectativa de lucro, soprada pelos ventos do entretenimento inconsequente e descartável que o exibidor brasileiro programou a estréia de ''Motoqueiro Fantasma''.

''Ghost Rider'' nunca foi minha história em quadrinhos de cabeceira. E isto porque personagens e histórias místicas com tintas barrocas não estiveram em minhas prioridades de HQ. Que aliás foram muitas, embora não fanatizadas. Mesmo reconhecendo que a imagem do diabólico motociclista em chamas possui inegável apelo visual, sempre considerei a mitologia de seu entorno muito pobre em desdobramentos dramáticos, de estrutura muito rasa.


O que é o argumento? O foco está sempre em Johnny Blaze (Nicolas Cage), motociclista acrobático que na juventude fez um pacto com o demoníaco Mefistófeles (Peter Fonda) para salvar a vida do pai doente. Como sempre acontece nesses casos de clássico contrato em que o bem em questão é a alma, a coisa desanda.


Anos mais tarde, o agora rico, famoso e indestrutível Blaze é procurado por Mefisto (o nome do personagem nos quadrinhos, não mantido no filme) para que destrua um grupo de motoqueiros que escapou do inferno. Blaze se recusa mas não há opção. Mefisto o transformou no Motoqueiro Fantasma, esqueleto incandescente com estranhos poderes na presença de demônios em geral.


Criado nos anos 1970 por Roy Thomas, Gary Friedrich e Mike Ploog - embora o filme não os mencione - e reinventado nos 90 por Howard Mackie e Javier Saltares, este Motoqueiro Fantasma teve presença irregular na galeria de heróis da Marvel Comics. Seus poderes difusos e estranha origem nunca atraíram roteiristas bem dotados para transformar o personagem em alguém mais interessante.


E isto também se aplica ao filme: o roterista-diretor Mark Steve Johnson (Demolidor - O Homem sem Medo) aciona a providencial estratégia de quem planeja evadir-se o mais rapidamente do local do delito: drama genérico, personagens pré-fabricados e muitos efeitos especiais de qualidade aceitável, a fim de entorpecer o espectador. O que temos no conjunto é uma narrativa patética, previsível e com frequência ridícula, quando não estúpida.

Nicolas Cage, que ultimamente parece estar em quatro de cada três filmes de Hollywood, luta como pode contra o roteiro inepto, mas é quase sempre derrotado.


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