Na última semana, ela inundou as redes sociais com uma mensagem - 'Não se esqueçam de Mariana'. Falando diretamente para a câmera, Mariana Ximenes apresenta imagens dos danos causados pelo rompimento da barragem em Mariana, interior de Minas. São imagens de destruição e morte. Uma Mariana pede que a gente não se esqueça da outra. No Brasil tão polarizado pela pressão social, Mariana, a cidade, com seu sofrimento, suas vítimas, realmente corre o risco de ser relegada a segundo plano. Não se esqueçam.
Mariana, a atriz, adorou o roteiro de Zoom, quando lhe foi enviado pelo diretor Pedro Morelli. Sua personagem é uma modelo que resolve escrever um livro, mas não tem muito apoio do marido. Ela se isola numa praia, tem um affair com a dona da pousada, interpretada por Claudia Ohana. Mariana não tem o menor pudor, o menor problema em interpretar cenas de sexo, sejam hétero ou homo. "O que importa é a personagem. E a história. Sou uma atriz com uma disponibilidade muito grande. Uma vez que estou na pele da personagem, faço o que for preciso. As cenas com Claudia foram tranquilas. Foi como se ela fosse um homem."
Muito mais difíceis - mas Mariana adorou fazer - são as cenas do desfecho, quando a personagem se joga do avião atrás do livro cujas folhas vão sendo levadas pelo vento. "Olha aqui o muque, querido, não é para qualquer uma, não."
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E Mariana, elegantérrima, num vestido que ostenta generoso decote, mostra os músculos sarados do braço para o repórter. Aquilo que o espectador vê na tela é um efeito. Na verdade, Mariana estava suspensa por cabos. Eventualmente, tinha de se segurar neles. "Não tenho problemas com altura, mas fiz uma preparação." O muque foi mais necessário em outro filme, O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues, que ela filmou em Portugal. "O Circo acompanha um século da vida de uma família num circo. Faço a trapezista. Lá, sim, a preparação foi intensa para os números de trapézio."
E ela anda feliz da vida com sua carreira no cinema. Zoom - Realidade Virtual estreia na quinta, 31, em 100 salas de todo o Brasil. O Grande Circo pleiteia uma vaga para representar o Brasil no Festival de Cannes, em maio. A seleção será anunciada em abril. Cacá deve ser o diretor brasileiro que mais vezes participou do festival de Cannes, em diferentes seções, e em concurso ou não.
Zoom participou da mostra Vanguarda no Festival de Toronto do ano passado.
O filme conta as histórias de três diferentes personagens como se um estivesse vivendo a situação construída pelo outro. O subtítulo brasileiro - Realidade Virtual - aponta para esse caráter ficcional dentro da própria ficção. Mistura animação e live action. Toda a parte de animação foi feita na O2, com o suporte de artistas e técnicos canadenses de ponta. O resultado não é para todos os gostos, mas o público ligado em HQs poderá se divertir com a trama em que Alison Pill imagina o homem ideal, e o desenha. Gael García Bernal faz o papel - de um cineasta superconceituado e 'womanizer', pegador. O problema, e põe problema nisso, é que seu pênis de repente reduz-se a proporções liliputianas.
"O filme é pródigo nessas situações que não são realistas e que exigem a forma criada pelo Pedro. Eu gostei." Além do filme que estreia quinta e do outro que muito provavelmente irá para o segundo semestre - depois de Cannes, participando, é o que todos esperamos, ou não da seleção -, Mariana também tem pronto o novo Ruy Guerra, Quase Memória, que o cineasta adaptou do romance de Carlos Heitor Cony. "Ruy e Cacá são nomes históricos do Cinema Novo, Pedro é um jovem autor, mas vou dizer - esses caras não têm idade quando filmam. O Ruy é um gênio. Sabe aquilo que dizem, que determinados cineastas têm o filme na cabeça? Ele é assim, impressionante. E o Cacá é gente fina pra caramba. Cria uma harmonia no set que deixa o trabalho muito gostoso." Cinema, cinema. Mas Mariana - seu nome é trabalho - está com a agenda lotada também na televisão. Ela fez a minissérie Supermax, de José Alvarenga Jr., que será apresentada na faixa dos onze.
"É um projeto superinteressante e que acho que vai repercutir bastante. A ideia é do Zé (Alvarenga) e foi desenvolvida por ele, que participou da escrita com um monte de gente bacana do cinema. Marçal Aquino, Fernando Bonassi, Carolina Kotcho. É um reality show que se passa num presídio no meio da selva. Inclusive, o Pedro Bial está no elenco, com a gente, fazendo o papel dele. Na ficção, a emissora cancela o programa, mas os participantes não ficam sabendo e seguem confinados. Começam a ocorrer coisas estranhíssimas. Eu faço uma espécie de enfermeira que trabalha no hospital do presídio. A pegada é de gênero, terror. Menino, acho que vai mexer com o público. Cléo Pìres também está no elenco. Fica atento que vai ser bom."
Haja coração para tanta emoção - ops, justamente Haja Coração é o título da próxima novela de que Mariana vai participar, na Globo. A atração vai ser apresentada na faixa das 7, substituindo Totalmente Demais, e o autor é Daniel Ortiz. "O Daniel também é jovem, mas tem uma história incrível. Trabalhou na Anistia Internacional, em Londres, e escreveu novelas no México e nos Emirados Árabes."
Não é por nada, não, mas, se nos últimos tempos, você foi a uma feira da Mooca e achou aquela feirante muito parecida com a estrela global, bem, era Mariana. "Já fui muito à feira, trabalhei como feirante, tudo como parte do laboratório para a personagem." E que personagem é essa? "Anos atrás, a Claudia Raia fez grande sucesso como Tancinha numa novela de Silvio de Abreu, Sassaricando. Haja Coração não é exatamente um remake de Sassaricando, mas pega algumas personagens e as lança numa nova história. Vou estar num triângulo com João Baldasserini e Malvino Salvador." E ela brinca - "Vou deixar a mulherada louca de inveja". E Mariana ri, gostoso. Impossível alguém se esquecer dessa mulher.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.