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'Lágrimas do Sol' justifica intervenções sangrentas

Carlos Eduardo Lourenço Jorge
15 mar 2004 às 17:24

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Mônica Belluci e Bruce Willis: Após guerra no Iraque, filme que mostra o exército americano com espírito de sacrifício e solidariedade soa como piada - Divulgação
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Como sempre, nada de novo sob o sol. Nem mesmo o coração mole de Bruce Willis, ultimamente batendo no peito do duro de matar - a quarta seqüela de ‘Die Hard’ acaba de ser anunciada para 2004. ‘Lágrimas do Sol’, chega em tempos tão difíceis quanto politicamente incorretos. E pior, chega atrasado algumas décadas. Nos anos da Segunda Guerra Mundial pelo menos o inimigo era definido e os filmes, acreditem, eram melhores porque agiam às claras como propaganda.

‘Nós nunca esqueceremos, Deus nunca esquecerá’, afirma ao destemido tenente Water (Bruce Willis) uma senhora transbordante de gratidão. Já o mesmo não poderá ser repetido pelo espectador ao final de ‘Tears of the Sun’, por mais sangue, suor e lágrimas que o personagem de Willis tenha oferecido durante os 120 minutos que duram a missão.

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Para quem recentemente andou oferecendo no Iraque gorda recompensa por Sadam Hussein, vivo ou morto, as demonstrações de compaixão, solidariedade, espírito de sacrifício e bravura tornam esta ficção uma espécie de piada, e de péssimo gosto. Outra tarefa difícil é convencer o público mais esperto de que marines em ação intervencionista ‘defensiva’ são sensíveis e humanitários.

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Violência crua, heroísmo de fachada, melodrama rasteiro, habituais doses de ação encenadas com precisão técnica tão indispensável quanto previsível, ideologismos subentendidos. É disso que se nutre ‘Lágrimas do Sol’. Os roteiristas Alex Lasker e Patrick Cirillo tentam disfarçar a ausência de suporte psicológico criando um dilema a ser enfrentado pelo oficial Waters-Willis.

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Fanático por ordem e disciplina, ele recebe a missão de resgatar, numa Nigéria conflagrada por um golpe militar que depôs o regime democrático, a dedicada e heróica médica Lena Kendricks (Mônica Belluci). A missão seria rotineira para o experiente Waters e seu grupo de elite, não fosse a recusa da médica em abandonar seus pacientes. Teimosa, inflexível, ela exige que todos sejam retirados, sabendo que ninguém teria chances de sobrevivência.


Levar ou não levar todo o grupo. Posta a questão, o diretor Antoine Fuqua (‘Dia de Treinamento’) decide não aprofundá-la e despacha sem cerimônia e da forma mais superficial este sempre interessante filão de dramaturgia, preferindo o encaminhamento político-ideológico curto e grosso. Entra então em cena a teoria de que ‘a inatividade leva à tragédia’.

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O filme termina com a citação do estadista inglês Edmund Burke: ‘Tudo o que o mal precisa para triunfar é que os bons não façam nada’. Pronto. Está tudo validado, Somália, Afeganistão, Iraque, Palestina...(O filme, a propósito, foi realizado exatamente no momento em que os Estados Unidos impunham a necessidade da guerra contra o Iraque com base nas tais informações ‘inteligentes’ cuja veracidade hoje virou pó.)


De volta à trama. Então, altruísta e corajoso, Waters cede aos apelos da médica (que também é bela, apesar de maltratada pela maquiagem ), dá meia volta e salve-se quem puder na infernal selva nigeriana (o Havaí, outra vez travestido de África).

No caminho rumo à fronteira de Camarões, um mix de tensão, emoção desmedida, carnificinas, clichês, estereótipos. E La Belluci, na pele da médica arrogante e cabeça dura, tem duas funções precisas na história: sempre discutir com o sargento e manter estrategicamente abertos os botões de cima do uniforme.


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