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'Infância Roubada' mostra redenção no gueto pós-apartheid

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
03 ago 2007 às 18:30

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- Divulgação
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O cinema sul-africano surgido após o apartheid se encontra em bom momento de sua curta mas já frutífera história. O drama ''Tsotsi - Infância Roubada'', que estréia hoje na cidade, foi bem recebido nos mercados internacionais, especialmente impulsionado pelo Oscar que levou ano passado como melhor filme estrangeiro. Em 2005, outra produção da África do Sul, ''Yesterday'', sobre o calvário de uma mãe negra afetada pela Aids, por pouco não ficou com a estatueta, que afinal premiou ''Mar Adentro''.

Aos 19 anos, sem qualquer instrução, o amoral Tsotsi (em zulu, língua original dos diálogos, significa algo como delinquente violento) é um desses excluídos sociais que habitam as franjas miseráveis de Johanesburgo, mais precisamente aquele lendário conglomerado subumano de Soweto. Ele lidera um grupo de transgressores, sempre às voltas com roubos e assassinatos. Uma noite, depois de esfaquear um homem no metrô, Tsotsi se embriaga num bar clandestino. Atormentado pelas perguntas dos amigos sobre sua infância traumática, briga com eles e sai pela noite chuvosa.

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Num bairro classe média-alta da metrópole, atira numa mulher e rouba seu carro de luxo. Mais tarde, em plena estrada, se dá conta de que há um passageiro no veículo, um bebê de dois meses. Assustado, perde o controle e acaba numa valeta. O que fazer nas circunstâncias? Como calar o choro desta criança? Ele decide, instintivamente, ir adiante com o bebê. Faz o que pode para acalmá-lo, já escondido em sua casa. Oculta o episódio dos comparsas. E numa de suas rondas noturnas conhece uma jovem mãe e a obriga a amamentar seu ''protegido'' - a relação entre Tsotsi e a mulher, Miriam, é um dos pontos altos da narrativa. A partir deste momento, as coisas começam a mudar para Tsotsi. Ele percebe que transitar pela vida vai mais além de matar e roubar.

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Ao manter louvável distância do melodrama e da lágrima fácil, o diretor Gavin Hood estruturou um roteiro que, embora discreto e muito longe da perfeição, consegue mesclar com correção a dureza do drama de inquietações sociais e a mensagem de solidariedade em um microcosmo contaminado pela agressividade e pela apatia.


Mesmo incorrendo aqui e ali no previsível, no convencional e até no caricaturesco (os policiais), o filme, que não esconde a influencia muito permeável de ''Cidade de Deus'', dá conta do recado - e o recado é até explícito demais: trata-se de uma história de redenção, tema que Hollywood gosta de cercar de discursiva pompa moralista para dizer que alguém ''mau'' decide ser ''bom''. Por pouco o contágio não se alastra até ''Tsotsi''.

Para chegar à mente e ao coração do espectador, ''Tsotsi'' entra pelos olhos filtrado por uma fotografia soberba, e pelo ouvidos através de uma trilha musical que utiliza diferentes temas de ''kwaito'', algo assim como a versão sul-africana do hip-hop.


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