A idéia inicial era fazer um vídeo reunindo imagens da carreira de um dos mais importantes surfistas brasileiros, mas o projeto cresceu e o surfista paraibano Fábio Gouveia ganhou uma homenagem ainda maior: o documentário ''Fábio Fabuloso'', em cartaz em Curitiba.
Dirigido por Ricardo Bocão, Antonio Ricardo e Pedro Cezar, o filme relata a trajetória de Gouveia por meio de depoimentos de pessoas próximas e imagens de arquivo registradas desde a década de 80. Mas não é só isso. Os diretores buscaram referências cinematográficas para conferir ao filme o mesmo dinamismo de uma boa onda.
Para começar, o trio de diretores, decidiu fugir de tudo aquilo que lembra um filme de surfe. ''Em Fábio Fabuloso, o ponto principal não é a imagem, mas sim a trajetória improvável que Gouveia realizou'', disse Ricardo Bocão ao Folha 2, em entrevista por telefone.
Para contar a história do primeiro brasileiro a vencer uma etapa do Circuito Mundial da Association of Surfing Professionals (ASP) no Brasil e fora do País e o único a vencer uma prova do circuito mundial no Hawaii, os diretores utilizaram como fio condutor, um simpático jegue.
''As imagens são uma colcha de retalhos, arquivos de programas esportivos captados nos mais variados suportes, mas quando tivemos a idéia de colocar o burrinho como fio condutor da história, filmamos essas passagens em 16 mm'', conta Bocão.
O jegue entra em cartaz junto a referências tipicamente nordestinas, como a própria música, composta especialmente para o filme por Marcos Cunha e as ilustrações e poesias que remetem à literatura de cordel.
Já nas primeiras cenas do filme, essa referência fica clara. Na montagem, também é impossível não reconhecer a linguagem de Jorge Furtado utilizada, pro exemplo, em filmes como ''Ilha das Flores'' e o recente ''O Homem que copiava''.
''Essa escola é assumida já na apresentação dos personagens'', diz o diretor. Pioneiro nos programas de esportes de ação da televisão brasileira, Bocão diz que não sentiu dificuldade em realizar o seu primeiro documentário para o cinema.
''Quando começamos a pensar o projeto, há uns quatro anos, era para ser um vídeo e depois que conseguimos o patrocínio, um DVD, mas já no início eu pensava grande e achava que a história do Fabinho valia um filme'', conta. O trabalho demorou um ano e meio para ser concluído, mas só depois de dez meses de trabalho, a equipe concordou em transformar o projeto inicial em um longa.
O orçamento de R$ 550 mil não contou com leis de incentivos. A distribuição inicial é de apenas nove cópias, mas os diretores já vislumbram a participação de ''Fábio Fabuloso'' em festivais mundiais. Já foi selecionado para o Festival de Miami e de São Francisco, no ano que vem. No Brasil, antes mesmo da estréia no circuito comercial, já ganhou o prêmio de melhor documentário no 17 Festival do Rio de Janeiro.
O surfista Fábio Gouveia nasceu em Bananeiras, interior da Paraíba e começou a surfar nas ondas da Praia do Bessa. Se destacou no cenário mundial ao vencer o mundial de amadores de 1988, em Porto Rico.
Foi o primeiro surfista do Brasil a integrar a categoria dos Top 16 e a participar do seleto grupo dos Top 5, que congrega os cinco mais importantes atletas do mundo. Hoje, aos 35 anos, vive em Santa Catarina, com a mulher, os filhos e uma coleção de pranchas.