Não há de ser só porque o universo da animação cinematográfica está revolucionado pelos computadores que qualquer um pode ir chegando e fazendo qualquer coisa, assim sem mais, achando que todas as platéias do mundo são trouxas e não percebem os oportunismos marqueteiros.
Este ''Selvagem'' não oferece praticamente nenhum elemento genuinamente novo e nem evidencia inspiração em relação aos congêneres. Este o pecado original. O mortal é que, ainda que se admita uma liquidificação de idéias alheias, o caldo resultante não se destaca por coesão, interesse, empatia ou humor.
O fato, que não era mero boato: ainda em fase de manufatura, este ''Wild'' já evoluia sob a suspeita de que se parecia muito com ''Madagascar'' e ''Procurando Nemo''. Vejamos o argumento. Um grupo de animais selvagens, entre eles um leão e uma girafa, escapa do zoológico de Nova York pelo visto local de segurança mínima... e vai parar na África, terra dos ancestrais, não sem antes fazer escala numa Manhattan repleta de outdoors publicitários.
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Então, ''Madagascar'' de novo ?! Sem o menor pudor pelo inexistente copyright cinematográfico, a turma do decano selo Disney partiu para o xerox selvagem (quem sabe daí saiu o título ?) e soltou os bichos. Que são, já foi dito, o leão chamado Sansão, o koala Nigel, a sucuri Kasar, o esquilo Benny (mas até ''A Era do Gelo'' não escapou ?!) e a já citada girafa Bridget.
A missão é resgatar o fujão Ryan, filhote de Sansão. Acabam todos num barco, e no fim da linha numa ilha cheia de perigos há uns divertidos antílopes messiânicos querendo passar de presas a predadores.
Mas ''Selvagem'' não se limita a beliscar roteiros da concorrência. Lança mão também de um tema central de várias obras da grife própria, desde ''O Rei Leão'' até ''Chicken Little''. É o conflito na relação pai-filho, com o sofrimento do menor por não poder emular o pai num cenário em que a mãe está ausente (jogo dramático tradicional nos produtos Disney, a começar por ''Bambi'').
Agora, o leãozinho Ryan, criado em cativeiro, quer a liberdade, e acaba em busca das origens selvagens. Na África, em uma palavra. E quando se sabe que Sansão não honra a força do próprio nome, sendo até chamado de Sammy, o filhote Ryan inverte a relação pai-filho.
Inteiramente digitalizado e dirigido pelo estreante Steve Williams, perito em efeitos visuais em filmes de carne e osso, ''Selvagem'' recorre quase com frenesi a uma constante nos filmes de animação recente: a acumulação e o consequente congestionamento de piadas verbais. A maioria delas por conta do esquilo que, você vai comprovar, é uma espécie de clone do burro de Shrek. Ao final, em território africano, certas confusões mais divertidas atenuam o incômodo inicial e permitem olhos mais indulgentes.