Talvez não exista no Brasil um episódio que cause tanta comoção nacional como o que acontece com os americanos quando o assunto é o atentado de 11 de setembro. Mas não estamos em uma ilha e o fato tocou tanto os brasileiros como todo o resto do mundo.
E esse é apenas um dos motivos que faz com que o filme ''Fahrenheit 11 de setembro'', de Michael Moore, seja tão esperado em território verde-amarelo como está sendo aclamado na terra do Tio Sam.
No filme, que já tem a maior arrecadação da história do cinema em sua categoria, Moore resgata uma teia de episódios que comprovam as trapalhadas do governo Bush antes e depois dos atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono, incluindo a guerra contra o Iraque.
O projeto do filme começou a ser desenhado o ano passado, quando Moore ganhou o Oscar pelo também documentário ''Tiros em Columbine''. Ao receber o prêmio, o diretor incluiu em seu discurso uma dura crítica ao governo de George W. Bush.
''Nós vivemos em um tempo em que resultados fictícios de uma eleição proclamam um presidente fictício. Vivemos em um tempo em que esse homem nos leva a uma guerra por razões fictícias, enquanto nos oferece a ficção da fita de vedação e do alerta laranja. Nós somos contra essa guerra, Sr. Bush. Tome vergonha, Sr. Bush. Tome vergonha na cara (...)'', disse na época.
Com ''Fahrenheit'', Moore declarou estar justificando (e comprovando) o que falou durante seu discurso. O documentário, recheado de imagens já divulgadas em sua maioria pelas emissoras americanas, algumas encomendadas por Moore e outras realizadas especialmente para o filme, ganha uma dimensão própria justamente ao colocar lado a lado episódios propagados isoladamente.
Mas o espectador não deve esperar uma digestão facilitada dessa união de imagens. Apesar de Moore conduzir à compreensão do óbvio, o filme causa constrangimento até nos mais desligados com os episódios mundiais.
O cineasta lança mão de recursos capazes de despertar todo o tipo de sentimento. Os jornais americanos divulgaram que em uma das sessões em que ''Fahrenheit'' foi exibido, por exemplo, uma mulher se levantou ao final do filme e pediu uma reunião e não são poucos os relatos de que as pessoas choraram durante e após a sessão.
E uma das causas dessas reações, além de todo o conjunto do filme, é a maestria com que Moore reúne os fatos, com crítica e humor, característica que o tem elevado a uma das figuras mais populares da atualidade. Ele tem até um site em português (www.michaelmoore.com.br) para quem quiser saber mais sobre a já lendária figura que nasceu na pequena cidade de Flint.
De alguma forma, a cidade natal de Moore aparece em quase todas as suas produções. Em ''Fahrenheit'' ele mostra como o governo americano recrutou jovens para o exército no decadente lugarejo. Os jovens soldados norte-americanos no Iraque são mostrados também em histórias exclusivas na lente de Moore.
Outra peculiaridade do filme é a trilha sonora. Moore casa com excelência as cenas com as músicas do tema de ''Super Herói Americano'', o seriado que foi febre no Brasil nos anos 80, para ilustrar uma cena de Bush, aos hits escutados pelos soldados em pleno combate e até com o silêncio. Mais uma jogada de mestre que faz com que ''Fahrenheit'' seja programa obrigatório.