Este segundo filme do desconhecido diretor Chris Kentis é de longe a melhor estréia de um fim de semana com avassaladora presença de títulos americanos - cinco, sendo três lançamentos nacionais.
Providencialmente curto e liquefeito em águas infestadas, ‘Mar Aberto’ é a opção mais digna dentro de um leque de títulos que, quando muito, poderiam se acomodar diretamente nas gôndolas das locadoras, sem desnecessárias escala no circuito nacional de salas.
Não se entenda, porém, como ‘melhor estréia do fim de semana’ uma obra de antologia, referencial, influente e coisas do gênero. É um trabalho bem decente naquilo que se propõe, e isto é suficiente para recomendá-lo sem maiores arroubos.
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Certa manhã, casal sai de casa rumo a merecidas férias. Ambos estão dispostos a esquecer o dia a dia de trabalho incessante. Durante os próximos dias, vão se dedicar a tudo aquilo de que são privados por força de suas obrigações.
Mas vejam como são as coisas: logo os dois estarão desejando nunca ter saído da rotina de suas existências. Vidinha dura, mas pelo menos vidinha, aquela mesma que vai ficar mais e mais difícil conservar.
Em alto mar, praticando mergulho, os dois são esquecidos e ficam enclausurados - o paradoxo é sutil e inteligente: na imensidão do oceano à mercê do medo e de um perigo real, imediato, invisível mas tangenciado.
Logo de saída, parece complicado dotar de ritmo um filme entregue a dois personagens e um único cenário. E é de fato. Virtuosismo para poucos, como o Godard de ‘Acossado’ naqueles mais de vinte minutos de diálogo entre Jean Paul Belmondo e Jean Seberg na cama de um quarto minúsculo, com o tempo parecendo parado no ar.
Ou para o Joseph Mankiewicz encenando o ‘Jogo Mortal’ entre Laurence Olivier e Michael Caine, respectivamente anos 1950 e 70. Mas o diretor Kentis, auxiliado pela mulher produtora, roteirista, fotógrafa e montadora Laura Lau, e entusiasmado por um projeto assumidamente de baixo orçamento, deu-se bem naquilo a que se propôs.
Durante três quartos de ‘Mar Aberto’ (cerca de uma hora, já que entre início e fim são 79 minutos, outro ponto a favor do filme) a câmera centra seu foco na dupla à deriva, flutuando desamparada naquele horizonte líquido sem fim.
A história, segundo consta, é das tais baseadas em fatos reais. O que não faz diferença para o resultado. Tudo funciona bem, e não exatamente porque o ‘Open Water’ seja um filme de terror. Ou melhor, talvez seja por ser mesmo um filme de terror. Mas não um terror desses novos por aí, banais, ordinários, sem inspiração. O pêndulo aqui é como se trabalha a claustrofobia: não há escapatória para lado algum. Dramaturgicamente: aqueles dois estão semi-enterrados (na água !), e esta é uma boa arena para conflitos de qualquer natureza.
Nenhum tédio, nenhum aborrecimento para o espectador. A não ser, claro, o desassossego diante de um cenário cheio de inconvenientes e horrores compartilhados entre os personagens e a platéia - vorazes tubarões, águas-vivas, necessidades fisiológicas, mau humor e discussões entre o casal, intranqüilidade e medo crescentes a caminho de um clímax de terror pouco comum. O mais aterrador é que ainda por cima é permitido suar de pura aflição na poltrona.