Estreias

"De Repente é Amor" e "Em Boa Companhia"

02 ago 2005 às 18:53

Para considerável parcela do público disciplinado pela cartilha do cinema hollywoodiano mais volátil, como sempre plenamente senhor das nossas salas, o exibidor local reservou dois lançamentos que, não sendo nem de longe indispensáveis, também não são execráveis.

Isto significa que é possível encontrar em ''De Repente é Amor'' e ''Em Boa Companhia'' alguns momentos de entretenimento básico não ofensivos à inteligência e ao bom gosto.


O sorridente Oliver (Ashton Kutcher) e a impulsiva Emily (Amanda Peet) foram o casal romântico de ''De Repente é Amor''. Desde o primeiro encontro no avião já se sabe que o futuro de ambos é ficarem juntos. Mas o destino e principalmente o roteirista Colin Patrick Linch prepara mil e uma ciladas contra a união.


A história cumpre uma trajetória de sete anos, tudo se repete de novo e mais ou menos da mesma maneira. Encontro fortuito, atração mútua, afinidade confirmada, promessa de consumação do romance e...o tal obstáculo. Que pode ser medo de compromisso. Afazeres de trabalho. Distância geográfica. Um outro ou alguma outra rondando.


Tudo afinal o que é preciso, para fazer rolar os 107 minutos e prender o interesse do público, é assegurar nova separação e acenar com novo reencontro. E haja mudança de cenário.


Como se observa, nenhuma novidade no front das comédias românticas. Todo este repertório de dramaturgia já foi combustível de um sem número de histórias de amor, e algumas poucas, é verdade até bem memoráveis.


Mas aqui o diretor Nigel Cole não sabe muito como lidar com a superficialidade dos envolvidos na trama. Para buscar mais consistência, ''De Repente é Amor'' às vezes se parece um pouquinho com ''Harry & Sally'', ou com o ainda mais inspirado ''Antes do Amanhecer''. Mas só um pouquinho. O que predomina são pequenos artifícios pouco críveis, ou porque muito ingênuos ou porque muito óbvios.


E como tanto Amanda quanto Ashton carecem daquela formação sólida, embora dominem o trivial, a previsibilidade do argumento e a debilidade dos personagens se acentuam. Numa hipótese mais animadora, é filme que se deixa ver.


Com mais atenção e afeto pode ser vista, na sala ao lado, ''Em Boa Companhia'', comédia que inclui interessantes ingredientes de drama. Nada, no entanto, que desregule o fiel da balança.


Dan Foreman (Dennis Quaid) é o veterano chefe de vendas de publicidade numa revista esportiva com excelentes resultados financeiros. Está num momento feliz, apesar e por causa da gravidez inesperada e temporã da mulher Ann (Marg Helhenberger). Além disso, a filha Alex (Scarlett Johansson) conseguiu ser aceita na Universidade de Nova York.


Os dois fatos balançam o orçamento da casa. E então uma multinacional compra a revista. O novo chefe de Dan passa a ser Carter Duryea (Topher Grace), alguém muito mais jovem do que ele. Para complicar as coisas, o recém descasado Carter vai se relacionar às escondidas com Alex.


Quem assina o filme é Paul Weitz. E daí, perguntaria o leitor, quem diabos é Paul Weitz ? Bem, pode não ser muita coisa, mas rastreando seus dois filmes anteriores é possível se aproximar de ''Em Boa Companhia'' a partir de certa coerência temática.


Não que ''American Pie'', o primeiro dele, fosse um produto defensável. Mas lá estava o pai compreensivo e aberto ao diálogo que sempre acabava compartilhando com o filho as mais estranhas e surrealistas situações. O segundo assinado por Weitzdele, ''Um Grande Garoto'', já tinha chegado num outro registro, aquele que aproximava o garoto carente de referencial paterno do egoísta vivido por Hugh Grant, alguém que contra todos os prognósticos acaba assumindo o papel.


Pensando bem, esta comédia amável ambientada na maior parte do tempo no universo empresarial contemporâneo nada mais é do que um outro olhar sobre o mesmo tema. A diferença é que a relação filial de ''In Good Company'' é entre um homem maduro e responsável e um jovem não muito chegado a escrúpulos disposto a buscar o enriquecimento usando de qualquer recurso mas alguém extremamente insueguro e que na verdade perdeu de vista o foco de sua vida.


Neste sentido, o filme também confronta duas formas de capitalismo. De um lado aquele especulativo, impiedoso e desumano; de outro, aquele mais antigo e compassivo de outrora, talvez obsoleto, mas muito mais preocupado com o bem-estar dos empregados da empresa.


Ao contrário da outra produção focalizada acima, ''Em Boa Companhia'' se esforça em boa medida para oferecer um retrato mais completo dos personagens, o que lhe dá muitos corpos de vantagem porque trabalha com a perspectiva do ser humano de carne, osso e sentimentos, não de estereótipos ou formulações.

Um filme, afinal, a que se pode aderir sem arroubos, mas com agrado graças ao elenco eficiente e à direção sóbria que narra de maneira sensível uma história convencional em forma e fundo.


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