Hebreu, árabe, afegão (dialetos dari, pashtu, urdu), russo e um pouco de inglês, para não perder o hábito. Os cinéfilos alternativos agradecem a babel que se coloca à disposição no circuito local durante o feriado carnavalesco. Além do israelense ''The Bubble', estréia em Londrina o também muito bom ''O Caçador de Pipas'', precedido pelo enorme sucesso global da novela homônima de Khaled Hosseini.
Sob a direção de Marc Foster, responsável por três sólidos títulos - ''A Última Ceia'', ''Em Busca da Terra do Nunca'' e ''Mais Estranho que a Ficção'' -, este drama começa em 1978 no Afeganistão, antes que Rússia, o Talibã e os Estados Unidos desfigurassem drasticamente a história do país. Há exatos 30 anos, a capital, Kabul, vibra com a energia da garotada que compete com perícia em duelos aéreos, empinando multicoloridas pipas.
Dois dos meninos participantes das disputas são o rico Amir e o filho do empregado de sua família, Hassan, amigos inseparáveis desde sempre. Mas esta relação se rompe quando um grupo de delinquentes do bairro comete um crime brutal contra Hassan, diante da covarde passividade de Amir, que não só não intervém no momento como posteriormente rechaça o amigo. Muitos anos depois, um escritor afegão radicado nos Estados Unidos decide voltar à terra natal para resgatar um garoto junto ao regime talibã - e tentar com isso neutralizar o peso na consciência.
Dividido em três partes - os fatos na infância, o exílio nos EUA e o retorno ao Afeganistão -, o filme contribui para uma abordagem objetiva da conturbada história contemporânea daquela área ''maldita''. E embora o filme tenha lá seus toques de romance, relação entre pais e filhos e um áspero acerto de contas com o passado, a porção da narrativa que permanece no imaginário do espectador é aquela da meninice e da inocência violentada. Ótimo todo o elenco, com relevância para o comovente intérprete de Hassan, Ahmad Khan Mahmidzada, o pequeno afegão de 12 anos.