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As armas em terra de ninguém

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
17 out 2005 às 17:25

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Nicolas Cage interpreta um contrabandista que enriquece com o comércio de armamentos: filme mantém distância sobre a polêmica do comério ilegal - Divulgação
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Não há quase nenhum espaço para considerações morais no universo do verdadeiro ''business''. E quando de um lado há alguém disposto a vender, seja lá o que for, vassouras, revistas ou armas, e de outro lado há alguém disposto a comprar seja o que for, não há nada que impeça a transação.

Estas são as tristes lições que se pode tirar de ''Senhor das Armas'', um espetáculo bem razoável acompanhado por uma ''mensagem'' ou, se preferem, um ''filme de mensagem'' servido como entretenimento bem razoável.

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O filme do neozelandês Andrew Niccol (''Gattaca'' e ''S1mOne'', roteiro de ''O Show de Truman'') é sobre um recado tão velho como o dinheiro, ou tão velho como a troca: o desejo de ganho rápido pode facilmente levar ao crime.

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''Senhor das Armas'', aparentemente inspirado em fatos reais, relata as venturas e desventuras de um desses crápulas ''simpáticos'' que conhecemos não só de cinema, um desses contrabandistas cínicos que enriquecem com o comércio de armamentos.

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Orlov (Nicolas Cage), americano de origem ucraniana, vende armas aos déspotas mais ricos e mais cruéis de todos os quadrantes, se aproveitando de mercadoria russa abandonada ou depreciada após a guerra fria.


Com o mesmo perfil do Tony Montana de Al Pacino em ''Scarface'' ou do Henry Hill de Ray Liotta em ''Os Bons Companheiro'', Orlov realiza, à sua maneira, o sonho americano. Que, evidentemente, logo terá o contorno de um pesadelo travestido de tragédia clássica.

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O que parece ter comprometido mas não anulado, é bom ressaltar as intenções de ''Senhor das Armas'' é sua hesitação entre ser um assumido drama ficcional com fortes entrelinhas documentais, ou um semi-documentário com um bom tempero de ficção o que leva a pensar o que um Michael Moore, por exemplo, faria a respeito.


Já que evidentemente não se tratava de um mais veiculo de sustentação estelar para Nicolas Cage, o filme poderia ter ousado mais nesta duplicidade de meios para atingir sua finalidade, isto é, a denúncia do comercio ilegal de armas. ''Lord of War'' parece abusar da prudência, preferindo manter certa distância da polêmica mais aberta.

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De qualquer maneira, e não por coincidência, ''Senhor das Armas'' chega às telas brasileiras dias antes do primeiro referendo popular da história do país. Este que decidirá se a população é a favor ou contra o comércio legal de armas e munições.


E é exatamente como munição extra que o filme pode ser utilizado por um ou por outro lado da disputa. Pelo sim, pelo não, não custa lembrar que o argumento do filme se refere ao atacado, não se fala em varejo. E também vale lembrar a frase que aparece estampada no poster publicitário do filme: ''Onde há uma vontade, há uma arma''. Cruel, mas verdadeira.

A música do filme é do jovem compositor brasileiro Antonio Pinto, agora despontando como garoto prodígio em Hollywood depois de fazer o nome com as trilhas de ''Central do Brasil'', ''Cidade de Deus'' e ''Colateral''.


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