Serão 75 anos no próximo dia 25 - Alfredo James Pacino, que se tornou conhecido como Al Pacino, nasceu em Nova York, em 1940. Sua estreia no cinema ocorreu aos 19 anos, com um papel em Uma Garota Avançada/Me, Natalie. Aos 21, já fazia o protagonista viciado de Pânico no Parque/Panic in Needle Patrk, de Jerry Schatzberg. Aos 23, Francis Ford Coppola fez dele o jovem Michael Corleone de O Poderoso Chefão, que adaptou do best seller de Mario Puzo. O resto é história.
Al Pacino fez o Chefão 2 e 3, foi o Scarface de Brian De Palma. Do outro lado da lei, foi o Serpico de Sidney Lumet e, para o diretor, protagonizou o Sonny Wortzik de Um Dia de Cão, com seu plano maluco de assaltar um banco para financiar a operação de mudança de sexo do amante. Diversas vezes indicado para o Oscar, ganhou a estatueta pelo cego Frank Slade de Perfume de Mulher, de Martin Brest. Em 1995, dirigiu o documentário Looking for Richard, sobre o processo de adaptar o Ricardo 3º de Shakespeare.
Al Pacino não é só um ator, nem um astro. É um ícone. Filho de ítalo-americanos, Salvatore e Rose, é curioso que a família da mãe tenha vindo de uma cidadezinha italiana... Corleone. "Estava escrito", ele disse, certa vez. Al Pacino está de volta, a partir desta quinta-feira, 2, e com a direção de Barry Levinson. Investigam o universo do teatro em O Último Ato. No original, o filme chama-se The Humbling e baseia-se no livro de Philip Roth. Pacino faz um ator que surtou no palco, foi parar numa clínica psiquiátrica - fazendo terapia via Skype - e agora tenta o retorno. Existem casos similares na história do cinema.
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Para o leitor do livro de Roth, o choque será imenso. Agora mesmo, estão em cartaz outras adaptações, e de livros de prestígio. Glendon Swarthout ganhou todos os prêmios importantes da literatura de western com seu The Homeman/Dívida de Honra. O ator e diretor Tommy Lee Jones fez uma adaptação fiel, ao espírito e à letra, do livro. Reproduz cenas inteiras, os diálogos. Paul Thomas Anderson, a despeito das liberdades que possa ter tomado em Vício Inerente, não é menos fiel à visão do escritor Thomas Pynchon sobre a ‘América’ dos bichos-grilos.
A impressão é de que Pacino comprou os direitos para dispor do sonoro nome do personagem - Simon Axler - e, talvez, do conceito, mas nem isso. Até as referências teatrais são outras. No livro, Simon prepara-se para um ato importante encenando, para si mesmo, em casa, A Gaivota, de Chekhov. No filme, ele realmente encena Shakespeare, Rei Lear. Ambas as peças tratam da finitude e da morte, mas uma, a de Chekhov, é intimista, quase um sussurro. A outra é Shakespeare, som e fúria.
Eterno candidato ao Nobel de Literatura, Philip Roth é um escritor extremamente crítico da vida americana - Pastoral Americana, Complexo de Portnoy, Complô Contra a América. Com o tempo, tornou-se mais amargo e irônico. Homem Comum e Fantasma Sai de Cena abordam a mortalidade, Indignação vale-se do acaso para retratar a juventude. Sob certos aspectos, A Humilhação parece uma súmula do escritor. Nada é muito fiel e, no filme, tudo obedece a uma nova dinâmica. Que dinâmica? Pois uma das críticas que se pode fazer a O Último Ato é que o filme começa chato - mesmo que esse não seja um critério de avaliação defensável - e segue arrastado até, finalmente, deslanchar.
Lá estão as personagens secundárias que cruzam o caminho de Simon. Pegeen é filha de uma atriz com quem ele atuou, no passado. A garota é lésbica assumida, mas aos 8 anos teve uma paixonite pelo já maduro (40 anos) Simon. Envolvem-se e, lá pelas tantas, ressurge a mãe para levantar a possibilidade de incesto. Pegeen será filha de Simon?
Não é a única alucinação do atormentado herói, que necessita da arte para viver a vida. Simon incorpora suas falas do palco, de repente nem ele mais sabe o que está dizendo. O começo oferece um de seus típicos momentos de falta de clareza - mas ele não sofre de Alzheimer. Simon sai do camarim, atendendo ao chamado da produção, mas se perde nos labirintos do teatro e vai parar na rua com o figurino da peça. O filme de Barry Levinson passou em Veneza, em setembro passado. Lá também estava o Birdman de Alejandro González-Iñárritu, que tem uma cena similar, mas, no filme do mexicano, o ator (Michael Keaton) terminava andando de cueca na rua, lembram-se?
O fantasma da decadência assombra o herói, empurra-o para uma auto-anulação definida como "inexplicável e apavorante" na orelha do livro. Com todas as qualidades que possa ter, um dos problemas de Último Ato é que Barry Levinson, diretor de Quando os Jovens se Tornam Adultos, O Enigma da Pirâmide e Rain Man - que lhe valeu o Oscar -, não resiste a psicologizar a crise de Simon. Levinson busca e oferece explicações que o filme não requer, daí os imbróglios que criam nós górdios na narrativa.
Algumas subtramas são interessantes - a paciente da clínica que confunde ator e personagem, e tendo visto Simon como assassino na ficção, quer que ele a ajude a matar seu marido, que ela descobriu ser o molestador da filha - o desenvolvimento dessa trama, por sinal, é um dos que mais afastam o filme do livro, mas essa, literalmente, é outra história. E, há, claro, a ligação de Simon e Pegeen, interpretada por Greta Gerwig.
Assim como Al Pacino é um grande de Hollywood - do cinemão -, Greta virou referência da produção indie dos EUA, interpretando e escrevendo (com o diretor Noah Baumach) o cultuado Frances Ha. Pegeen, por ser jovem, aumenta o desequilíbrio da vida de Simon. Ela entra como um componente de risco, e esse é um agravante das crise de Simon, porque ele era controlado - na arte e na vida- e perdeu o controle sobre ambas. Alguns diálogos de Simon e Pegeen são desencontrados, mas bons, ou são bons porque desencontrados e, nesse sentido, acentuam as diferenças. A cena em que Pegeen convida a ex para jantar com Simon e ela é exemplar. Ela/ele não consegue aceitar que Pegeen a tenha "trocado" por esse velho. Seria cômico se, no mais das vezes, não fosse trágico.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.