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14 fev 2001 às 17:21

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Cena de ‘‘Hanibal’’: Anthony Hopikins volta a encarnar o Dr. Lecter, um dos grandes vilões do cinema - Divulgação
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Chega hoje às telas do Brasil - e de boa parte do mundo - o antropofágico ‘Hannibal’, a sequência de ‘O Silêncio dos Inocentes’
Carlos Eduardo Lourenço Jorge
De Londrina
Especial para a Folha 2

Para os cinéfilos mais impacientes e principalmente para a indústria foi uma longa vigília, encerrada há alguns dias com o lançamento americano. Dez anos depois de ‘O Silêncio dos Inocentes’, os produtores retomaram a sinistra rotina serial de um dos mais requintados e sanguinários personagens da extensa galeria de psicopatas cinematográficos. O dr. Lecter, com o apetite inalterado, está de volta a partir de hoje em ‘Hannibal’ (veja a programação de cinema na página 5), com estréia prevista simultaneamente em quase toda a Europa, América Latina e alguns países asiáticos. Neste caso, a decisão de lançamento aberto, que as grandes companhias preferem evitar, é estratégia para tentar acompanhar o furor registrado nas bilheterias americanas - 111 milhões de dólares em menos de duas semanas.
Dez anos se passaram desde a espetacular fuga do dr. Lecter. E ninguém se esqueceu dele: a lei, o público que colecionou notícias sobre canibalismo e as vítimas de suas famintas investidas. Neste meio tempo, o assassino se retirou para uma vida silenciosa, isolada entre vitrais de uma Florença sulfúrea, contraditória entre a luz renascentista e um passado de sangue. A agente do FBI, Clarice Starling, ajudada por novos indícios, está de novo na trilha certa. Mas não está sozinha: o magnata Mason Verger, que teve o espírito e parte do corpo destruídos no último encontro com Hannibal, cultiva a mesma obsessão de Clarice. E até oferece uma pequena fortuna como recompensa a quem capturar o homem devorador de homens.
No multipremiado ‘O Silêncio dos Inocentes’ - os cobiçados cinco Oscar essenciais: filme, diretor, ator, atriz e roteiro - Hannibal Lecter tinha os olhos alucinados, desafiantes na maneira perversa com que fixava a câmera, causando uma mescla de horror e atração somente privilégio dos grandes vilões do cinema. Ninguém esqueceu aquele olhar equivocadamente sedutor, o mesmo com que, há dez anos, este assassino então enjaulado examinava as credenciais do FBI a ele mostradas por uma jovem e ainda inexperiente agente.‘Mais perto, mais perto’, ele pedia, soando como uma provocação aterrorizante em meio a uma densa calma que antecedia a tragédia iminente.
Muita coisa mudou em ‘Hannibal’, e não foram apenas as substituições do diretor Jonathan Demme por Ridley Scott e a de Jodie Foster por Julianne Moore. Dez anos se passaram, tanto na existência ficcional de Lecter como desde a produção de ‘O Silêncio dos Inocentes’. Anthony Hopkins parece bem mais pesado e envelhecido, embora ainda atraente. Aquela intensa contração de maxilares (de Lecter, obviamente) cedeu lugar a uma movimentação mais relaxada, a um olhar, digamos, mais ‘renascentista’, mas ainda agregado à vertente Bórgia. Em resumo, Hannibal tornou-se decadente. Havia em ‘O Silêncio dos Inocentes’ um seca simplicidade, notável principalmente nos frequentes tete-a-tete entre Lecter e Clarice. ‘Hannibal’ é mais complicado, mais ultrajante, menos controlado em todos os sentidos. Há sequências que muitos vão considerar intoleráveis , em que o canibalismo assume requintes gráficos desde já candidatos à seção de torpezas do Guinness Book. Uma delas, especificamente a da ‘refeição-climax’, pode ser classificada como uma das mais audaciosamente revoltantes jamais incluídas numa produção da ‘mainstream’ hollywoodiana.
Ridley Scott, que disputa o Oscar da categoria pela direção de ‘Gladiador’, tem grande facilidade em dotar suas narrativas de um sentido visual preciso, aquilo que se chama estilo. Isto está em ‘Os Duelistas’, ‘Alien’, ‘Blade Runner’, ‘Gladiador’ e agora também em ‘Hannibal’. Uma vez mais distanciados os personagens de Lecter e Clarice durante boa parte da história, a performance de Julianne Moore não pode e nem deve ser comparada a de Jodie Foster. De resto, Julianne é ótima atriz, sempre. Gary Oldman aparece irreconhecível como o mutilado milionário Manson Verger, espécie de reencarnação desfigurada do Lon Chaney da primeira versão de ‘O Fantasma da Ópera’. E o veterano Giancarlo Giannini faz um bom policial concupiscente, sonhando em botar as mãos em Lecter e no dinheiro. Decepcionante o roteiro dispersivo de David Mamet e Steven Zaillian, que altera inclusive o final do best-seller de Thomas Harris.
Mas o que resulta na maior fissura deste trabalho é a não retomada da conexão fundamental em ‘O Silêncio dos Inocentes’, a misteriosa amarra que une Hannibal e Clarice, dois seres que expõem as vísceras da alma. Graças ao argumento providenciado pelo texto de Thomas Harris, os personagens são mantidos afastados, e o espectador deve somente acreditar de boa fé na ligação entre eles.
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