Bastidores

Novo 'House of Cards' perde suas sutilezas; confira crítica

21 jun 2017 às 09:43

Na quinta temporada da icônica House of Cards, no canal Netflix, chove em vários momentos; faz frio e o céu está nublado. Bem, esse é o clima do seriado nessa fase - para o bem e para o mal. A trama se mantém nos cascos. O casal presidencial, Frank e Claire Underwood, está francamente infame e sua presença cada vez mais frequente nas saletas da rigorosamente real Casa Branca reconstruída pela cenografia ganhou em cinismo.

Frank está mais velho, mais gordo e mais canalha. O tempo também passou para Claire. Continua bonita; antes, era linda. A atriz Robin Wright decidiu capitalizar seus 51 anos - não esconde as rugas do pescoço e das mãos. O corpaço está lá e ela mostra orgulho. Kevin Spacey, 59 anos, está grisalho. Ele, além de encarnar o presidente Frank, também é um dos produtores da série. Dá pitacos o tempo todo, contam os outros atores e o pessoal da equipe de apoio. Ao constatar que a maior parte da temporada de 2017 seria uma espécie de teleteatro e se passaria em ambientes fechados, aumentou os momentos em que se desprega da ação, volta-se para a câmera e conversa com o público. É um recurso e tanto.


No final do 13º e último episódio, Claire, feita presidente, não atende a um telefonema de um ansioso Frank, preocupado em obter dela o perdão de seus crimes, comuns e políticos. Ela ignora o celular. Olha para a frente e diz "É a minha vez".



Poderia perfeitamente ter sido assim desde o início. Todavia, sem o roteirista principal, Beau Willimon - trocado pelos experientes Melissa Gibson e Frank Pugliese -, a linha das sutilezas sumiu. A história continua trepidante, claro. Mas, faltou apostar, por exemplo, em um novo Freddy, o churrasqueiro. No começo da série, o personagem, vivido por Reg Cathey, tem uma casa de assados, especializada em preparar costelas à moda sulina, cobertas com seu molho secreto. O então deputado Underwood é um visitante fiel. Os dois pouco se falam, mas as visitas de Frank são fantásticas, reveladoras, psicanalíticas. House... não tem mais isso.


Agora, é assim. O presidente Frank tenta convencer a Secretária de Estado (a Secretária de Estado!) a não depor em uma comissão de investigações do legislativo. Cathy Durant (Jayne Atkinson) se recusa. E Frank a empurra escada abaixo. Na Casa Branca. Hospital, sem depoimento. Bom. Claire Underwood vira vice e sente que o Salão Oval está ali, bem perto. Para tirar da frente uma ameaça potencial, envenena o amante, Tom Yates (Paul Sparks) - ele morre enquanto fazem sexo. Há mais abrasão. Candidato da oposição esquizofrênico. Um chefe de gabinete que assume assassinatos e ao menos uma forte cena de sexo em cada capítulo. O estilo mau-caráter que aparecia nebuloso, no subtexto, e por isso fascinava, se perdeu na quinta etapa da série. Quem imaginaria, há dois anos, aquela cena do presidente e seu personal trainer nos porões de um baile oficial?

Na sexta etapa, em 2018, o comando nuclear dos EUA estará nas mãos de Claire, que já aparece agora brincando com a maleta do fim do mundo. Talvez seja isso mesmo, o fim de tudo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Continue lendo