Em Ricki and the Flash, Meryl Streep é uma roqueira que desistiu da família (marido e três filhos) para perseguir o sonho de se tornar uma estrela do rock. Filhos crescidos (e ela longe de tudo), Ricki precisa voltar para ajudar a filha, que enfrenta um divórcio espinhoso, ao mesmo tempo em que confronta o tempo perdido, mágoas ainda abertas, sentimentos que ela se recusa a abraçar.
Tudo regado a boa música, claro! O filme de Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes, Filadélfia) é confortável, levemente emocionante e previsível à beça. Meryl é um monstro, claro. Se eu precisasse de uma neurocirurgia e ela fosse operar, estaria em boas mãos.
Demme entende o suficiente do riscado para deixar a máquina fluindo. Nenhum ator compromete (principalmente Mamie Gummer e Rick Springfield, com quem eu conversei no vídeo lá em cima). Mas Ricki merecia mais pulso, mais sangue nos olhos, mais conflito, mais tensão, menos saídas fáceis.
Esse revés eu coloco na conta de Diablo Cody. A roteirista oscarizada por Juno (outro filme simpático e com texto só ok) aproveitou que tinha Meryl Street em seu córner e não poupou um único clichê do filme-de-família-que-faz-as-pazes. Tem a filha que não quer ver a cara da mãe, mas aos poucos amolece o coração.
Tem a mulher sofrida que foge de um relacionamento amoroso feito diabo da cruz mas logo amolece o coração. Tem o filho gay que ressente a mãe preconceituosa mas logo amolece o coração. Tem a nova mulher do ex-marido que, numa conversa ácida com nossa heroína, troca uma saraivada de mágoas mas (você já adivinhou) amolece o coração.
Diablo escreve uma história de uma família fragmentada por uma protagonista que largou tudo para perseguir um sonho, mas acelera a resolução de cada conflito, resumindo e resolvendo uma década de fragmentação maternal em um único evento. É pouco.
(com informações do site Cinema UOL)