Talvez não haja vida mais propícia que a de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) para discutir as relações entre arte e política. O documentário sobre o ator, dirigido por seu neto, Francisco Guarnieri, será apresentado nesta quarta-feira, 3, às 19h30, no Centro Cultural São Paulo, com entrada gratuita. Depois da sessão haverá debate com as presenças do diretor do filme, da diretora de teatro Cibele Forjaz, do ator Sérgio Mamberti e do autor do roteiro, Francis Vogner dos Reis. Guarnieri faz parte da mostra itinerante Histórias que Ficam.
O filme acompanha vários ramos da trajetória de Guarnieri - da fase épica do Teatro de Arena, onde, em companhia de Augusto Boal, encenou peças fundamentais para a compreensão do Brasil como Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes, entre outras. Quem assistiu a essas montagens, levadas num Brasil em transe pela primeira fase da ditadura militar, conhece sua importância e impacto. Guarnieri fez também muita TV e algum cinema. É protagonista do fundamental O Grande Momento (1958), de Roberto Santos, a Eles Não Usam Black-tie (1981), de Leon Hirszman, comentário a quente das greves operárias e seu impacto na redemocratização.
O doc vale-se da fartura de material de um artista cuja carreira foi registrada em fotos, filmes e vídeos. Deu inúmeras entrevistas, em fases distintas, e era incisivo em suas opiniões, mesmo num tempo em que franqueza não era tão recomendável assim para a saúde. Os filhos de Guarnieri, Paulo e Flávio, seguiram a carreira do pai e também são ouvidos. O painel é amplo, bem construído e pinta, para o espectador, retrato multifacetado e forte de uma de suas principais personalidades artísticas. Ah, sim, para Guarnieri, as relações entre arte e política eram muito íntimas.