Mulheres bósnias vítimas de violência sexual durante a guerra dos Balcãs, nos anos 90, chamaram a atriz e diretora Angelina Jolie de "ignorante" e disseram que ela não merece ocupar a função de embaixadora da boa vontade das Nações Unidas.
Jolie começou a rodar seu primeiro filme como diretora em outubro, na Hungria. O longa-metragem conta a história de amor entre um guarda sérvio em um campo de detenção e sua ex-namorada, uma prisioneira muçulmana, durante a guerra civil.
Em uma carta endereçada à ONU, a Associação de Mulheres Vítimas da Guerra alega que Jolie ignorou suas preocupações sobre o roteiro do filme.
"A atitude ignorante de Angelina Jolie em relação às vítimas diz o suficiente sobre o enredo e nos dá o direito de continuar tendo dúvidas a respeito dele."
A filmagem começou a causar polêmica na Bósnia depois que a imprensa local noticiou que havia cenas que mostravam uma mulher bósnia se apaixonando por um sérvio que a havia violentado.
"Nós insistimos em encontrar Angelina Jolie já que não queremos ser representadas de forma equivocada para o mundo...Nossas vozes merecem ser ouvidas e deveríamos ter sido tratadas com muito mais respeito. Angelina cometeu um erro grave. Acreditamos que ela não agiu como uma verdadeira embaixadora da ONU e que ela não tem credibilidade para continuar como embaixadora", diz a carta do grupo de vítimas às Nações Unidas.
Por causa de reclamações feitas anteriormente pela associação, a permissão para filmagens na Bósnia havia sido suspensa.
Em outubro, Jolie disse em uma declaração que seria uma pena se "pressões injustas baseadas em informações erradas" impedissem que ela rodasse seu filme. O roteiro não teria nenhuma cena de estupro.
No fim, a atriz e diretora acabou conseguindo permissão para que sua equipe gravasse cenas panorâmicas no país, apesar de não ter acompanhado pessoalmente as filmagens. As demais cenas teriam sido filmadas na Hungria.
Cerca de 100 mil pessoas morreram entre 1992 e 1995 no conflito entre croatas, muçulmanos e sérvios na Bósnia.
De acordo com números do governo, estima-se que pelo menos 20 mil mulheres, em sua maioria muçulmanas, tenham sido estupradas durante a guerra.