O chamado cinema de autor, ou cinema de invenção, tinha perdido seu espaço no País - talvez desde o Cinema Novo e o Cinema Marginal. Mas nesta quarta, 17, ele recebe uma notícia no mínimo animadora: 17 projetos de filmes de quatro regiões do País foram escolhidos para receber R$ 20 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual.
Os filmes escolhidos, selecionados entre mais de 200 inscritos, são aqueles que desafiarão a sanha do cinema comercial nos próximos anos no País. Não terão de buscar recursos no mercado: o edital, denominado Prodecine 5, financia 100% da produção. Ao todo, serão anunciados R$ 162 milhões em investimentos em cinema, parte do pacote Brasil de Todas as Telas - que destinou R$ 1,2 bilhão ao cinema entre 2013 e 2014.
Segundo Manoel Rangel, diretor-presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), o critério-chave para o edital autoral é a excelência artística. Ele não concorda com a ideia de que edital do cinema autoral seja uma reação à explosão de um cinema mais comercial no Brasil. "O Fundo Setorial do Audiovisual tem investido em todo tipo de filme. Tivemos muitos filmes que estão tendo uma maior comunicação com o público. Mas também tivemos produções de grande força artística, como O Som ao Redor e Hoje Quero Voltar Sozinho. Mas faltava dar visibilidade à produção de filmes de relevância marcadamente artística e cultural", considerou.
A seleção do novo edital contempla distintas gerações, desde decanos do cinema de invenção, como Julio Bressane, de 68 anos, e Edgard Navarro, de 65 anos, ao veterano Murilo Salles, de 64 anos, chegando a alguns dos principais cineastas jovens de destaque internacional nos últimos anos, como Julia Murat, de 35 anos, e Fellipe Barbosa, de 36 anos.
A seleção foi realizada por uma comissão mista formada por dois representantes da Ancine, o assessor internacional Eduardo Valente e o especialista em regulação Luciano Trigo, além de cinco independentes - a roteirista e diretora Ana Luiza Azevedo; o cineasta Cao Guimarães; o crítico Cléber Eduardo; o professor e curador Richard Peña; o roteirista e cineasta Karim Aïnouz; e o cineasta (e ex-secretário do Audiovisual do MinC), Orlando Senna.
Entre os contemplados, há projetos de produtoras de oito Estados (Rio, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná). O assessor internacional da Ancine, Eduardo Valente, membro da comissão, destacou a variedade temática, que vai de projetos mais experimentais a narrativas de ficção, além de três documentários (entre eles, filmes sobre Itaipu e a Baía de Guanabara). "Em todos eles, a marca comum é a expressão de universos artísticos únicos, cuja expressão de seus diretores e roteiristas é total."
Os filmes premiados deverão estar prontos entre um ano e um ano e meio. A diretora Ana Luiza Azevedo saudou o financiamento de "filmes que provoquem um novo olhar sobre o Brasil e a cinematografia brasileira, e que dificilmente encontrariam espaço em outras linhas". Nesta quarta, também, outros R$ 20 milhões serão anunciados para a mesma linha de incentivo em 2015 por Manoel Rangel. O edital sairá em julho.
Dobra investimento no filme nacional
Os valores a serem investidos no cinema brasileiro pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) consolidam um sistema de financiamento da indústria cinematográfica no País. O programa Brasil de Todas as Telas tinha investido, entre 2008 e 2012, R$ 405 milhões na produção e no desenvolvimento de filmes; em dois anos, esse valor mais que dobrou, passando a R$ 1,2 bilhão. Entre as novidades a serem anunciadas, haverá uma inédita linha de investimentos na produção de conteúdo para veiculação em emissoras públicas de televisão.
Serão R$ 60 milhões em cinco editais. A ação beneficiará 33 TVs educativas e culturais e mais de 100 canais de TVs comunitárias e universitárias de todo o País. .