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Ao longo do envelhecimento

Ser otimista pode ser uma forma de proteção contra o Alzheimer

Danielle Castro - Folhapress
24 jul 2024 às 13:45

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- Reprodução/Canva
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A forma como lidamos com as emoções pode proteger o cérebro de demências ou estimular o desenvolvimento de doenças como o Alzheimer no processo de envelhecimento. Segundo estudos recentes, ter atitudes positivas ou negativas ao longo da vida são fatores importantes no surgimento e até no controle de demências.


Ser otimista em relação ao futuro, por exemplo, pode reduzir em 53% as chances de desenvolver quadros de demência. A constatação é de uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) apresentada em junho no Congresso Brain 2024, no Rio de Janeiro, e que analisou dados de 9.000 pacientes.

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O levantamento foi feito com base nas respostas do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), que não faz avaliação clínica, mas destaca comportamentos e pensamentos ligados ao declínio cognitivo e à perda de autonomia funcional em casos de demência. 

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O material confirma uma tendência trazida pela literatura médica da última década e deve ser publicado em breve na revista "Dementia & Neuropsychologia".

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O ELSI-Brasil, por sua vez, é conduzido "em amostra nacionalmente representativa de adultos com 50 anos ou mais", com períodos de estudo conduzidos em 2015-16, 2019-21 e um novo, de 2023, ainda em curso.

Segundo o médico neurologista Fábio Henrique de Gobbi Porto, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), regional São Paulo, a literatura médica tem comprovado cada vez mais que padrões de personalidade, de pensamento e comportamento são fatores de risco ou de proteção para o cérebro contra essas doenças.

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"Já tem alguns estudos mostrando que atitudes negativas, como neuroticismo e sintomas depressivos crônicos, são fatores de risco e que, muito provavelmente, o oposto, uma personalidade mais otimista, é o fator de proteção", destaca Porto.

O diretor lembra que o efeito da atitude positiva não chega a ser a principal causa ou modo de prevenção de demências, mas que, muitas vezes, o otimismo está associado a ter hábitos de vida mais saudáveis, esses sim extremamente relevantes para prevenção e combate ao avanço de doenças como Alzheimer.

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Essas atitudes associadas, como prática constante de exercício físico, manter uma dieta melhor ou buscar mais estímulo cognitivo ao longo da vida.

"É difícil saber quanto o otimismo por si só é um fator independente, mas com certeza existe uma associação entre uma coisa e outra. A gente precisa investigar melhor o que acontece com essas pessoas e por que elas têm um desempenho melhor na cognição", aponta o médico.

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SER MAIS POSITIVO OU MENOS NEGATIVO?


De acordo com uma pesquisa norte-americana publicada em 2021 na revista científica Aging & Mental Health, mais vale reduzir a negatividade do que ser sempre positivo quando o assunto é preservar o cérebro. 

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Após avaliar 7.249 idosas com média de idade de 70,5 anos e escolaridade inferior a 12 anos de estudos, os autores apontaram que "nenhuma relação significativa emergiu da subescala de otimismo", mas que o pessimismo era um fator de risco para demências em mulheres no pós-menopausa.

Os pesquisadores concluíram na ocasião que os dados sugeriam "que menos pessimismo, mas não mais otimismo" podia de fato ser associado "a um menor risco de défice cognitivo ligeiro (DCL)" e doenças como Alzheimer.

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Já o artigo "Psychological well-being and risk of dementia" (Bem-estar psicológico e risco de demência), divulgado no International Journal of Psychiatry, em 2018, por pesquisadores da Flórida (EUA), diz que ter um "propósito de vida" (e não exatamente ser positivo) foi associado a "uma diminuição de 30% no risco de demência".

O resultado foi independente da presença de "sofrimento psicológico e de outros fatores de risco clínicos e comportamentais" e também do grau de rendimento ou riqueza do paciente e até mesmo de riscos genéticos.

"Depois de considerar o sofrimento psicológico, descobrimos que as medidas de bem-estar geralmente não protegiam contra o risco de demência. Uma exceção é o propósito de vida, o que sugere que uma vida significativa e orientada para objetivos reduz o risco de demência", concluíram os autores.

Para o neurologista Fábio Henrique de Gobbi Porto, o otimismo contribui por levar as pessoas a terem mais contato social e a encararem a realidade com mais leveza. 


"A percepção das coisas é muito importante, isso afeta muito o envelhecimento, que é uma fase bastante difícil da vida, na qual temos que aceitar fatos que estão fora do nosso controle, isso tem implicações em hábitos de vida e em emoções crônicas", pondera o neurologista.

Sofrer menos, portanto, tem grande valor, pois o sofrimento psíquico é associado a marcadores de estresse no cérebro que aumentam a chance de ter demência, doenças neurológicas, pressão alta ou colesterol aumentado. 


"Uma coisa é ligada a outra e, sem dúvida, na minha experiência clínica, as pessoas que encaram a realidade de uma forma mais leve vivem muito melhor", resume Porto.


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