Política

Youssef tem relação de longa data com políticos do Paraná

20 abr 2014 às 09:56

Preso pela Polícia Federal sob a acusação de ser o pivô da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef já esteve envolvido em pelo menos quatro outros grandes escândalos, todos envolvendo políticos e agentes públicos, entre o fim dos anos 90 e o início dos anos 2000 no Paraná: em Maringá, na gestão de Jairo Gianoto, o AMA-Comurb em Londrina, o esquema de lavagem de dinheiro do Banco do Estado do Paraná (Banestado) e a fraude contra a Companhia de Energia do Paraná (Copel). O último deles foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada na Assembleia Legislativa (AL) no dia 17 de março de 2003. O objetivo era apurar supostas ilegalidades ocorridas durante o processo de tentativa de privatização da estatal, a partir de 2001, na gestão do ex-governador Jaime Lerner (na época no PFL).

Conforme o relatório final aprovado pela AL, fizeram parte da CPI os então deputados Marcos Isfer (PPS), que assumiu a presidência do grupo, Ademar Traiano (PSDB), escolhido como vice-presidente, o relator Ratinho Junior (na época no PPS, hoje no PSC), os sub-relatores Alexandre Curi (PMDB), Vanderlei Iensen (PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Durval Amaral (na época no PFL), além de Valdir Rossoni (na época no PTB, hoje no PSDB) e Fernando Ribas Carli (PP). A maioria deles integrava a base de apoio a Lerner no Legislativo.


A principal denúncia investigada foi o caso conhecido como Copel/Olvepar. De acordo com o documento, a empresa do setor agropecuário, que teve falência decretada em agosto de 2002, em Cuiabá (MT), vendeu créditos irregulares de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para a Copel, no valor de R$ 45 milhões, por R$ 39,6 milhões. A operação foi autorizada pelo então secretário de Estado da Fazenda, Ingo Hubert, que era também diretor-presidente da Copel, e pelo ex-conselheiro do Tribunal de Contas (TC) Heinz Herwig.


Ainda de acordo com as investigações, Youssef foi flagrado em vídeo nos dias 6 e 13 de dezembro de 2002, por volta das 18 horas, sacando dois pagamentos de R$ 13,2 milhões em uma agência do Banco do Brasil, juntamente com Antônio Carlos Fioravante Pierruccini, representante da massa falida da Olvepar, e o tesoureiro da Copel André Grochevski Neto. A outra parte da transação, no mesmo valor, foi efetuada da mesma forma em 20 de dezembro. Do total, R$ 3,2 milhões foram entregues à empresa Rodosafra Logística e Transportes e o restante diluído em cheques, depositados em três contas de microempresas do Rio de Janeiro, operadas por fantasmas.


"É importante ressaltar que Youssef queria realizar o saque mesmo o beneficiário não sendo ele, o que dá um forte indício de que a destinação dos recursos era mesmo responsabilidade do ‘doleiro’ e este tinha controle de toda a situação", diz um dos trechos do relatório, que também acrescenta: "Se os créditos tivessem condições legais de serem restituídos, o deveriam ser à massa falida da empresa Olvepar, contudo, como visto, não foi o que ocorreu".


Após o fim dos trabalhos da CPI, Ingo Hubert e outras sete pessoas, entre elas Youssef, tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça, sob acusação de formação de quadrilha e peculato fiscal. Em seguida, o Ministério Público (MP) ingressou com uma ação civil pública e uma ação criminal, na 3ª Vara da Fazenda Pública e na 2ª Vara Criminal de Curitiba, respectivamente. A primeira delas indicava que os réus deveriam pagar as custas processuais e os prejuízos causados ao erário público, calculados em R$ 106,9 milhões. Até hoje, contudo, nenhum dos processos chegou a ser julgado.


"CADÁVERES ENTERRADOS"


Em entrevista à FOLHA, o deputado estadual Tadeu Veneri disse que, durante a CPI, tentou protocolar um convite para que tanto Hubert como Youssef prestassem esclarecimentos no plenário da AL. No entanto, foi voto vencido. "Perdi por oito a um. Todos os deputados foram contrários à vinda. Engraçado, agora posarem como Madalenas arrependidas", declarou.


Sobre a possibilidade de o doleiro voltar a depor sobre o caso na Justiça, o petista afirmou que "gostaria muito de saber por que esse processo está desde 2003 parado". "É inusitado que não haja curiosidade de alguma pessoa abrir e ver o que há lá dentro. Nós entregamos inclusive os vídeos e assinaturas do Pierruccini dizendo que recebeu dinheiro e, até hoje, não foi perguntado o que ele fez com aquilo. Então, talvez, o Youssef agora possa levantar esses cadáveres que estão enterrados há 11 anos", afirmou.


Já o deputado estadual Ademar Traiano (PSDB), que atualmente ocupa a liderança do governo Beto Richa (PSDB) na AL, curiosamente alegou que não fazia parte da CPI, embora seu nome conste no relatório como vice-presidente do grupo. "Você está equivocada. Eu votei pelo processo de privatização da Copel e hoje me arrependo. Mas não fiz parte de CPI. Não cabe a mim a pergunta", afirmou. "Isso (depoimento do Youssef) depende da Justiça, que como melhor entender, se necessário, vai buscar; não do deputado Traiano", completou.

Leia mais na edição deste domingo (20), na Folha de Londrina.


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