Sob fogo cruzado dos principais partidos que integram a coalizão do governo da presidente Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores (PT) se prepara para enfrentar a batalha das urnas, nas eleições municipais de outubro próximo, com o propósito de fortalecer a legenda e conquistar prefeituras estratégicas, como São Paulo, Salvador e Porto Alegre. Na capital paulista, no entanto, a entrada de José Serra e o câncer do ex-presidente Lula mexeu com o cenário local e a campanha do ex-ministro da Educação Fernando Haddad, pouco conhecido entre os paulistanos, ainda engatinha.
Para o presidente nacional da sigla, Rui Falcão, a entrada do tucano não altera as estratégias traçadas para Haddad."Até mesmo porque Serra tem telhado de vidro", provoca. E minimiza os ataques que a campanha do petista vem sofrendo: "Seu potencial de crescimento é grande, estamos no caminho certo e chegaremos ao segundo turno", prevê. Em entrevista exclusiva à Agência Estado, Falcão pontua que não há razão para a presença de Dilma Rousseff na campanha e aponta que sua entrada vai depender do tom que o ex-governador adotar na sua campanha. A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida na sede do Diretório Nacional da legenda, na capital.
Qual a sua avaliação da pré-campanha de Fernando Haddad?
A campanha dele está indo muito bem, porque em nenhum momento se alterou o planejamento inicial. Ele precisa popularizar o nome e as visitas aos bairros da cidade irão propiciar isso, ainda mais porque o PT perdeu a veiculação dos programas de TV (neste primeiro semestre). Como ele não é muito conhecido, seu potencial de crescimento também é grande, por isso, ele tem gastado muita sola de sapato, nas andanças pela cidade. Estamos no caminho certo, o PT está unido e chegaremos ao segundo turno.
A presidente Dilma Rousseff, pode entrar na campanha de Haddad?
A presidente diz que a melhor maneira de ajudar os aliados e o PT é fazer um bom governo. E ela tem mesmo de cuidar do governo, até por conta da crise internacional, que temos permanecido quase ilesos. Imagino que ela manterá essa postura, não há razão para ela romper essa postura e fazer campanha em São Paulo, até porque aqui temos um outro aliado na disputa, o PMDB.
E se a campanha do Haddad precisar do apoio de Dilma?
Creio que só se houver uma grande polarização (como PT e PSDB no segundo turno), e mesmo assim, vai depender de como o Serra irá tocar a sua campanha.
Qual a avaliação que o senhor faz da entrada do tucano José Serra na disputa na Capital?
Não escolhemos adversário, embora seja um nome do ponto de vista das opções dos tucanos, um nome que hoje é eleitoralmente mais forte, Serra tem um telhado de vidro enorme. Seja pelo atual estado precário da cidade ou pela falta de importância que ele dá aos compromissos. Isso tem de ser mostrado à população. Quando ele disse que iria ficar os quatro anos (na prefeitura, quando eleito em 2004) e não ficou, seus compromissos com a cidade podem também representar palavras ao vento.
E a nacionalização do debate que Serra está tentando imprimir neste pleito?
Apesar da prioridade que daremos aos assuntos da cidade, este é um debate que vai ser ótimo para nós. Confrontar o governo dele (do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) com o nosso, só nos favorece.
Seria bom para o PT que Gabriel Chalita, pré-candidato pelo PMDB em São Paulo, abrisse mão da candidatura própria para integrar uma chapa com Haddad?
Falam sempre muitas coisas em nome do PT, mas quero deixar claro que quem tem autoridade para falar em nome da sigla sou eu, seu presidente nacional. Chalita é um nome respeitável, que ajudou a presidente Dilma num momento em que havia uma campanha fundamentalista contra ela nas eleições presidenciais. Portanto, sua candidatura é legítima, nós a respeitamos e dependendo do cenário do segundo turno, estaremos unidos.
Por falar em PMDB, a base aliada vive um momento de rebelião, sobretudo contra o PT...
Não creio que haja rebelião da base aliada, vivemos apenas um momento de estresse, motivado pelas eleições municipais. Os conflitos são naturais, ainda mais que alguns partidos irão bater chapa conosco em alguns municípios. O PMDB continua sendo nosso grande aliado, sem menosprezar as outras siglas.
Mas alguns dirigentes da base aliada acusam o PT de deter muito poder no atual governo
Deve haver um equilíbrio no bloco que sustenta a nossa presidente. O PT não adota a política do 'toma lá, dá cá'. Aliás, nós temos a presidente da República e nada é mais importante para um partido do que chegar à Presidência. Além disso, temos ministérios importantes e priorizamos a qualidade do governo como um todo. Ainda que ninguém goste de perder espaço, isso não provoca terremoto no PT e como o PT tem maior responsabilidade de governo, o partido é sempre o mais compreensivo.
E as alianças em torno do nome de Haddad, como estão as negociações com o PSB?
Com relação ao PSB, a expectativa é que estaremos juntos aqui na Capital. Vou procurar os partidos (aliados) depois da definição das nossas candidaturas para uma conversa mais nacional, envolvendo todas as possibilidades, com PMDB, PCdoB, PSB e outros aliados. Onde houver candidatura do PT que não se viabilizou e aliado com maior possibilidade, desde que não esteja consorciado com DEM e PSDB, podemos dialogar e vice-versa. Onde tiver candidatos (base aliada) com menor possibilidade do que a nossa candidatura, vamos buscar maior reciprocidade. Apesar da dificuldade em fazer um alinhamento nacional numa eleição municipal, porque a tendência de polarização é grande, vamos sim priorizar as alianças.
E a senadora Marta Suplicy (PT-SP) vai entrar na campanha de Haddad?
Ela irá disponibilizar a agenda no momento adequado para o partido e queremos a participação da Marta. Dou meu testemunho de que ela sempre participou de nossas campanhas e deverá participar agora, até mesmo porque reconquistar a Prefeitura de São Paulo será a oportunidade de continuarmos muitos de seus programas que foram interrompidos na gestão Serra/Kassab.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai entrar com força total na campanha de Haddad?
Ele disse que teria compromissos no Instituto Lula, mas que iria priorizar, a partir deste ano, não apenas as eleições municipais, como também uma campanha em prol do PT e do 13 (número do partido). Uma campanha vote no PT, vote nos candidatos do PT, vote no 13.
Mas Lula poderá fazer a diferença numa eleição acirrada como a de São Paulo?
Claro que fará, pois quem saiu com mais de 80% em uma cidade como São Paulo, tem mais influência no voto. E quando se associa o nome de Haddad ao de Lula, seu patamar de intenção de voto chega à casa dos 25%.
Como está a campanha do PT em todo o País?
O PT está montando uma sala, no Diretório Nacional, batizada de sala da situação, pra acompanhar o que acontece em cada lugar do País. No final de março vamos promover cursos de formação para preparar prefeitos e vereadores, pela Escola de Formação política do PT. Há um ranço que o PT é só São Paulo, e não é. Visitei todas as 27 capitais em seis meses para dar uma dimensão regional à legenda. E nosso desafio neste pleito é manter o que temos, 559 cidades, incluindo as pequenas, reconquistar o que perdemos, como São Paulo, Santo André, Porto Alegre e ganhar outras cidades estratégicas, como Salvador.
Nas campanhas passadas, era comum dizer que o problema do PT era mesmo o PT, agora é possível dizer que o problema é a base aliada?
Não creio nisso. Nós convivemos com uma base grande no governo Lula e essa base ampliou um pouco agora, no governo Dilma Rousseff. Governos de coalizão exigem tempo, carinho, conversa, negociação. Se todos fossem do mesmo partido, as contradições seriam menores, a arte da política é compatibilizar esses conflitos. Se isso é problema, é problema da democracia. É claro que se não cuidar, uma poça pode virar uma lagoa.