Um contador que prestava serviços a duas empresas assediadas por auditores da Receita Estadual de Londrina afirmou nesta quinta-feira (17), perante o juiz da 3ª Vara Criminal, Juliano Nanuncio, titular do processo relativo à Operação Publicano 1, que efetivamente recebeu pedido de propina de cerca de R$ 120 mil do auditor Ademir de Andrade. A exigência, feita em 2012, seria para que uma empresa do ramo de materiais elétricos, da qual a testemunha fazia a contabilidade, não fosse autuada.
"Prontamente, eu disse que não ia aceitar", afirmou. Declarações semelhantes já haviam sido feitas anteontem pelo proprietário da empresa e seu advogado, para quem o contador havia relatado o pedido de propina. Uma funcionária do escritório de contabilidade, ouvida ontem, também confirmou as declarações do contador. Em razão da recusa do pagamento de propina, a empresa foi multada em aproximadamente R$ 1,7 milhão, auto contra o qual foi apresentado recurso administrativo ainda não julgado.
Outro depoente foi um empresário do setor de autopeças que relatou ter sido achacado, em 2013, pelo auditor Marco Antonio Bueno. Teria pedido R$ 300 mil para não autuar a empresa e dito que o valor seria uma exigência de pessoas de Curitiba. "Eu achei estranho porque eu recolho impostos como substituição tributária. É o fornecedor que recolhe o imposto", afirmou. E o empresário não pagou propina e foi multado em R$ 57 mil.
O advogado Edgar Ehara, que defende Andrade e Bueno, disse que esperaria o fim das oitivas para falar sobre a situação dos clientes.
Também prestou depoimento ontem o irmão de um contador (réu no processo) que afirmou ter entregado, a mando do irmão, ao auditor Orlando Aranda, dentro da Receita, um envelope, no qual supôs que havia dinheiro. Segundo a acusação do Ministério Público, o auditor exigiu e recebeu R$ 40 mil para não autuar uma empresa de revenda de veículos. O advogado de Aranda, Rodrigo Antunes, afirmou que a suposição da testemunha nada prova contra seu cliente.
Também foram ouvidos ontem um policial do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e o ex-sócio de um empresário do setor de vestuário. Três testemunhas foram dispensadas pela promotora Leila Schimiti e duas pessoas, equivocadamente arroladas, são rés e não testemunhas e, portanto, serão interrogadas nas próximas semanas.
Nesta sexta-feira (19), último dia para depoimentos de testemunhas de acusação, serão ouvidas três pessoas que não puderam comparecer durante a semana: a esposa do empresário do setor de vestuário, um contador e um empresário. A partir de segunda-feira começam os depoimentos das testemunhas arroladas pela defesa: são 187 pessoas, que serão ouvidas em seis dias – uma média de 31 pessoas por dia. Em 2 de março, começam os interrogatórios dos 52 réus que moram em Londrina.
A Publicano 1 envolve 72 réus e 70 fatos criminosos. As investigações do Gaeco, que começaram em março do ano passado, se desdobraram em mais três fases, todas relativas ao suposto esquema criminoso de cobrança de propina por auditores da Receita de Londrina. As audiências são públicas.