Expoente do PMDB, em pouco mais de 15 dias de expediente, Michel Temer mudou o cenário, as funções, o público e até os decibéis nos 1.200 metros quadrados que compõem a vice-presidência. A nova rotina transformou o corredor silencioso, onde visitantes eram proibidos de circular falando ao telefone, numa pista movimentada pelo entra e sai das 17 portas da vice.
A jornada na vice tem se estendido por 12, 13 horas. Os longos expedientes se explicam sobretudo pela intensa articulação política do vice nos bastidores, sobretudo para intermediar interesses do PMDB no governo. As visitas não param e os chamados do Palácio do Planalto também não. ''Temer tem força política porque costurou a unidade interna do PMDB antes de aportar na vice'', diz o ministro Wellington Moreira Franco, que só assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos graças a Temer.
Tem sido tão intenso o movimento de ministros, prefeitos, magistrados, empresários e parlamentares no gabinete de Temer que o garçom Abimael Andrade diz que só está ''aguentando o rojão'' porque é maratonista, com 110 troféus.
''O vice, em princípio, não tem muito a fazer. Mas, curiosamente, no meu caso a demanda tem sido espantosa'', afirma Temer, minimizando as articulações que tem feito nos bastidores.
''A cara e a rotina da vice mudaram porque agora temos um vice político'', afirma o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), que apresentou Temer à presidente Dilma e os aproximou em almoço promovido em fevereiro do ano passado, com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A primeira missão de Temer foi impedir que a disputa entre partidos aliados por cargos afetasse a definição sobre os comandos da Câmara e do Senado. Com o ambiente político tenso, telefonou à presidente. ''Eu ia esperar até segunda-feira, mas a situação está ficando ruim. Acho que vale a pena conversarmos, a senhora, o (Antonio) Palocci (ministro da Casa Civil) e eu'', sugeriu na primeira quinta-feira do novo governo.
Desde então, ele articula sem parar, oscilando entre a defesa dos interesses do PMDB e o papel institucional de vice. Por dever partidário, tomou as dores do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que protestara contra demissões de aliados pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), sem aviso prévio.
A atuação política de Temer faz com que parlamentares sejam obrigados a marcar audiência ou a esperar na antessala. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por exemplo, já chegou a aguardar por quatro horas para falar com o vice.