Política

Scalco e Richa articulam novo partido

13 dez 2000 às 10:45

O diretor brasileiro da Itaipu Binacional, Euclides Scalco, e o ex-governador do Paraná José Richa estão articulando a criação de um novo partido político. A idéia é criar uma sigla alternativa para concorrer às eleições de 2002. As costuras ainda são incipientes, mas os contatos em busca de novas adesões já começaram. Ontem, Scalco teve uma longa conversa com o secretário da Segurança Pública, José Tavares (PTB), na tentativa de atraí-lo para o grupo, que já conta com adeptos.

O projeto de Scalco e de Richa tende a tomar contornos nacionais somente em fevereiro do ano que vem, depois de concluído o processo de renovação das mesas executivas da Câmara dos Deputados e do Senado. Scalco e Richa têm bom trânsito em Brasília. Foram eles que, em junho de 1988, deram o start no processo de criação do PSDB no País. Junto com o governador de São Paulo, Mario Covas, e com o hoje presidente Fernando Henrique.


No Paraná, o prefeito reeleito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL), é o principal alvo do projeto político. Os defensores da nova sigla querem abrir uma dissidência no PFL e no PTB mais alinhado ao Palácio Iguaçu e transformar Cassio na principal estrela do partido. O prefeito de Curitiba seria a opção para a sucessão do governador Jaime Lerner em 2002, na visão deste grupo, porém, para isso seria necessária uma ruptura a curto prazo com o grupo lernerista.


Clima mais propício para cortar o cordão umbilical com Lerner, impossível. Apesar de amigos pessoais, Cassio e Lerner estão estremecidos. Trombaram durante a campanha eleitoral. O prefeito de Curitiba bancou a orientação de sua equipe de marketing e manteve o governador bem longe do programa eleitoral. O desgaste político de Lerner, acumulado em seis anos de governo, era visto como um ponto delicado no processo de reeleição. Na avaliação interna, se Lerner tivesse entrado de cabeça na campanha, Cassio teria perdido a eleição para o PT de Ângelo Vanhoni.


A pouca afinidade de Scalco e de Richa com Alvaro Dias (PSDB) e Lerner também é outro ingrediente do processo de criação da nova sigla. Scalco não esconde, em conversas reservadas, o seu descontentamento com o governo Lerner. Principalmente, depois de o governo do Estado ter obtido em Brasília autorização para a antecipação dos royalties da Usina de Itaipu, dirigida por Euclides Scalco. O diretor brasileiro da binacional foi contra a antecipação.


Com o PSDB, o relacionamento já azedou há muito tempo. Scalco desligou-se formalmente do partido, logo depois do ingresso de Alvaro Dias na sigla, em 1997, que passou a comandar o ninho. Scalco não concordou com a forma em que Alvaro ingressou no PSDB. Na eleição de 1994, quando Scalco integrou a campanha de Fernando Henrique, e Alvaro Dias comandava o PP, num apoio ao presidente, os dois já não se davam bem. Scalco apoiou Lerner no Paraná e não Alvaro.


José Richa ainda está filiado no PSDB, mas não tem mais nenhuma identidade com o partido. O desencanto começou em maio de 1998, quando foi derrotado por Alvaro Dias na tentativa de filiação de Lerner. Na época, Richa e Lerner se davam bem. Um ano depois, a relação entre os dois estremeceu. Enio Malheiros, ex-secretário da Comunicação de Richa e indicado por Richa para a Imprensa Oficial, desligou-se do governo acusado de desviar R$ 1,5 milhão dos cofres públicos.

O caso está sendo investigado pelo Ministério Público a pedido do secretário da Justiça, Pretextato Taborda Ribas. E teria sido a gota d"água para colocar o projeto da nova sigla em operação. A Folha apurou que Scalco e Richa trabalham ainda com alternativas, caso a criação do partido não decole. Eles estudam a possibilidade, em última análise, de se apropriarem de uma sigla já instalada. Porém, esta seria uma alternativa secundária. O projeto hoje é criar um novo partido.


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